OPINIÃO

Elos da existência

São tantos rodeios que me perco em meio às indagações. A pobreza, a minha, não permite respostas de intensidade. Os anseios crescem a cada dia e vale a pena deixá-los em plena exuberância. Assim, estarei à procura permanente de todas as dubiedades.

FÁTIMA QUINTASfquintas84@terra.com.br
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Publicado em 05/07/2023 às 0:00 | Atualizado em 05/07/2023 às 8:40
PIXABAY
"Escrevo por necessidade de explorar o âmago interior. Há uma turbulência que mexe em minhas inquietações" - FOTO: PIXABAY

O tempo nublado me leva a profundas reflexões. Pensar é uma forma de revisar permanentemente a vida. A cada instante surge uma nova concepção. Importa mergulhar na ideia do mundo. E as interjeições vão crescendo à medida em que convivo com os próprios anseios.

Não é fácil alongar-se no tempo. Quantas dúvidas florescem em minutos! Encontro respostas que não me atendem. Afinal, há uma individualidade que cresce em meio a muitas hesitações. Opto por alargar o caminho e criar múltiplos desvios. Que saberei eu dizer sobre um tema tão profundo? Não encontro respostas para perguntas difusas. Vou e volto e nada se explica. Ainda bem. Enquanto a existência perdurar, serei sempre uma interrogação.

As nuvens continuam embaçadas e o olhar intenso mostra a necessidade de inquerir em torno de fenômenos complexos. Os anseios crescem, sou uma permanente dúvida entre os alvoreceres diários. Amanheço plena de renascimento, mas a cada instante crescem as inquietações. Tudo parece estranho diante da indagação. Que a verdade se expanda ao longo da existência. Serei sempre uma dúvida acorrentada aos próprios delírios. Assim me alongo diante das verdades que tanto procuro. Melhor acreditar no que há de incerto ao redor. Que as palavras se renovem em meio às turbulências. Hoje de um jeito, amanhã de outro. Não faz mal. Estarei em permanente inquietação. O esquecimento favorece a plenitude de cada dia. As ansiedades se multiplicam, o deserto dos pensamentos aflora.

Escrevo por necessidade de explorar o âmago interior. Há uma turbulência que mexe em minhas inquietações. Ainda que a dimensão ególatra perdure, haverá sempre um mundo de dúvidas a me perseguir. Estarei sempre à procura de alguma coisa. Nada estanca em um pensamento aflito. Jamais conseguirei entender por completo o jorro existencial. Melhor acolher toda a excentricidade do Ser. Assim, entregar-me-ei à dimensão do que é e do que não é. Vale a pena abraçar os próprios conflitos. Jamais repudiá-los, antes pelo contrário. Viver é difícil e requer uma imensa intensidade do Ego. Que saberei eu diante de um tema tão complexo? Urge esquecer a pergunta e lançar-se na dimensão vulcânica da ontologia.

São tantos rodeios que me perco em meio às indagações. A pobreza, a minha, não permite respostas de intensidade. Os anseios crescem a cada dia e vale a pena deixá-los em plena exuberância. Assim, estarei à procura permanente de todas as dubiedades. Entre os duelos que permanecem, acredito no que há de vulcânico na alma. E o poeta Fernando Pessoa traduz o que não sou capaz de formular: "A espantosa realidade das cousas/É a minha descoberta de todos os dias./Cada cousa é o que é,/E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo"

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras

 

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