OPINIÃO

País precisa formar empreendedores

As nações competitivas globalmente investem em modelos e criam capacidade inovadora e empreendedora em escala global.

EDUARDO CARVALHO
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EDUARDO CARVALHO
Publicado em 07/07/2023 às 0:00 | Atualizado em 07/07/2023 às 8:40
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Exemplo: afroempreendedora Nina Silva, considerada a "mulher mais disruptiva do mundo" pela Women in Tech Global Awards - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

Empreendedores são inovadores. Desenvolvem uma ideia a partir do zero e criam um empreendimento de sucesso que pode causar impacto socioeconômico. Têm senso de urgência. Encontram a melhor maneira de fazer as coisas, pensando além dos recursos disponíveis. Visualizam resultados e se empenham em mobilizar os meios necessários para a implantação do que desejam. São líderes do progresso de uma nação.

Há no DNA dos empreendedores curiosidade, criatividade, intuição, percepção, motivação intrínseca. E tem também coragem para assumir risco, autoconfiança, perseverança e ambição. Empreendedores são questionadores e abertos para receber conselhos e sugestões. Ousam sair fora da zona de conforto, são resilientes lifelong learners (eternos aprendizes) e reagem à burocracia. Cercam-se de talentos que complementam suas competências e habilidades; têm objetivos claros para combinar ideias e recursos e criar vantagem competitiva sustentável. Têm capacidade de fazer acontecer e gerar valor. A mentalidade empreendedora não enxerga problemas e sim oportunidades.

No seu livro, "Cinco Mentes para o Futuro", Howard Gardner, professor da Harvard University, conclui que os problemas tradicionais podem ser resolvidos com uma "mente disciplinada". Entretanto, para resolver problemas complexos são requeridas mais quatro outras mentes: sintetizadora, criadora, respeitadora e colaborativa com princípios morais.

Há uma discussão se os empreendedores já nascem com esse espírito ou se os mesmos são desenvolvidos (Born or made?). Os estudos comprovam que a pessoa pode nascer com o DNA empreendedor, mas dependendo do ambiente onde for criado, esse potencial pode se desenvolver ou sucumbir. Outra possibilidade é que a pessoa pode nascer sem esse DNA, mas pode se tornar um, se o ambiente que lhe for proporcionado estiver adequado. Peter Drucker, grande guru da administração, acreditava que empreendedorismo pode ser desenvolvido e aprendido. O processo de aprendizagem acontece desde criança. Os desafios que as crianças e os jovens vivenciam são essenciais ao desenvolvimento das competências, habilidades e dos valores necessários para essa formação.

O sistema escolar é importante, todavia, cultivar o empreendedorismo na criança requer um ecossistema que proporcione experiências em várias escolas: esportes, artes, idiomas, entre outras. Aprende-se visitando museus, viajando, participando de atividades desafiadoras, sejam elas esportivas, acadêmicas ou intercâmbios internacionais. Cabe às famílias e escola proporcionar às crianças e jovens oportunidades de vivenciar experiências ricas que amplie seu mundo de ideias. Segundo o professor da Harvard University, Clayton Christensen, "os múltiplos ambientes de aprendizagem ajudam a criança a pensar 'fora da caixa', ampliar seus relacionamentos e aprender com diferentes modelos organizacionais.

Além das famílias, as instituições educacionais que a criança e o jovem frequentam precisam ter o propósito de ampliar a visão de mundo deles. A curiosidade para explorar como o mundo funciona, essencial para o desenvolvimento de mentalidade empreendedora, acontece através de um currículo baseado em indagação e no pensamento crítico. A coragem para assumir risco, também fundamental, pode ser desenvolvida através de brincadeiras e jogos. Nessas atividades, a criança/jovem erra, acerta, ganha, perde, cultivando assim a autoconfiança para enfrentar desafios maiores.

Para dar continuidade ao processo, a universidade precisa estar integrada com o mundo profissional. Abordar casos de empreendedorismo, criar Think tanks (Tanques de pensar) para discutir problemas locais e globais, despertando o interesse dos estudantes em solucioná-los. Palestrantes de calibre global devem fazer parte dos programas da universidade. É crucial que os estudantes possam cursar disciplinas em mais de uma faculdade da universidade (Think outside the building), possibilitando que se graduem em mais de uma especialidade. Ter um centro de empreendedorismo que promova regularmente desafios para todos os estudantes, realizando fóruns que integrem arquitetura com business, engenharia com business, por exemplo. Assim, estudantes de todas as formações desenvolverão mentalidade e DNA empreendedores.

Incentivar a formação empreendedora contribui para o crescimento sustentável do país, pois gera riqueza e oportunidades para a sociedade. O ecossistema de empreendedorismo representa a combinação de condições que moldam o contexto em que as atividades empreendedoras ocorrem. Para que floresça, se faz necessário que o país tenha um ambiente político, social e econômico estável, com políticas, leis, sistemas, programas, investimentos que cultivem o processo. Exige esforços conjuntos do governo, instituições de ensino, organizações públicas e privadas, e sociedade. As nações competitivas globalmente investem em modelos como o exposto e criam capacidade inovadora e empreendedora em escala global.

Eduardo Carvalho, Harvard University Fellow

 

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