Quando você entra em uma grande loja de departamento e escolhe aquele celular de última geração, paga os olhos da cara e sai dali satisfeito, sua decisão de compra foi tomada com base em impulsos racionais e emocionais que foram construídos no tempo a partir da confiança que a marca consolidou.
Grifes mundialmente conceituadas gastam bilhões de dólares para que a imagem de seus produtos não seja afetada por erros de desenvolvimento e produção, campanhas publicitárias de lançamento equivocadas e atendimento pós-venda insatisfatório.
A maçã estilizada da Apple, o cavalinho da Ferrari, as três pontas da Mercedes, a geleira branca da Mont Blanc são símbolos - a marca - facilmente associados aos produtos de altíssima qualidade e valor agregado.
Assim como esses, o logo do Exército brasileiro com escudo de três elipses concêntricas a envolver o Cruzeiro do Sul, sustentado por lâminas de espadas prateadas, é um escudo facilmente reconhecido e respeitado pela população brasileira.
A frase “braço forte e mão amiga”, associada a esse escudo, é outra ferramenta reveladora das intenções prioritárias da força terrestre: proteção material e psicossocial de nossa sociedade.
Detentora de alto reconhecimento junto ao público consumidor de seus produtos, a instituição carrega historicamente o valor agregado da coesão de seus recursos humanos, da operacionalidade de suas organizações, da credibilidade por suas ações e da integração junto à gente brasileira.
Exatamente por esses predicados, o produto gerado na simbiose da dimensão humana e da estrutura material da força terrestre é, historicamente, alvo de interesses de grupos como alavanca para conquista e manutenção do poder.
Contudo, nos últimos anos, a constante ação das lideranças militares para conter as influências políticas intramuros, revelada na firmeza com que seus chefes mais graduados apontam o caminho da legalidade e submissão à Carta Magna, impede que ela seja tragada para devaneios de poder extramuros, mesquinhos e abstratos.
Devaneios que podem macular anos e anos de serviço dedicado inteiramente à busca da segurança nacional, da manutenção da paz e do bem-estar sociais.
Apesar das crises recentes que envolveram a instituição, o valor da marca Exército brasileiro permanece incólume diante do imaginário da população.
À medida que a tempestade do início do ano se amaina, a sociedade se certifica, ainda mais, que o Exército brasileiro agiu, age e agirá inegavelmente como instituição permanente de Estado.
Essa sociedade confia, em consequência, na postura apolítica e apartidária da instituição que se volta para o core de sua razão de viver e se prepara operacionalmente com foco exclusivamente na missão maior da força terrestre que é a defesa da pátria.
Essa sociedade percebe uma força terrestre como parte de um todo e não apêndice descartável ou manipulável de grupos interesseiros por poder e consequentes prebendas.
Bem por isso, essa sociedade não pode baixar as armas e deve se pôr em constante vigília contra operadores de todos os matizes em busca de açular granadeiros ou criticá-los sem razão objetiva.
Em um equívoco, creem eles que podem cooptar os homens e mulheres fardados para a sua causa ou que podem deslustrar a marca da força apenas com narrativas.
Não podem.
Esses granadeiros e seus chefes, vestidos no uniforme da legalidade, não romperão marcha contra o Estado de Direito construído ao longo de anos e muitas pelejas.
Em contrapartida, a retribuição a essa postura deve ficar clara nas ações das autoridades, da imprensa, da academia, dos empresários, de todos, enfim, com transparente apoio emocional e material à organização, sem temor por rupturas nas relações entre o estamento civil e o militar.
Encerro este texto tomando por empréstimo a Alfred Stepan sua afirmação de que a democracia se torna o único jogo disponível na sociedade quando todos os atores da comunidade política se habituam ao fato de que todos os conflitos políticos são resolvidos de acordo com as normas estabelecidas, e que as violações dessas normas provavelmente serão ineficazes e sairão caras.
O Exército brasileiro demonstra estar alinhado com a afirmação de Stepan formulada no início da década de 1990.
A democracia entre todas as grifes é a mais valiosa, a mais cobiçada e a que precisa ser mais protegida. Como cidadãos, estejamos conscientes e prontos a defendê-la.
Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva