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Qual é o futuro de Tarcísio e do PL?

O governador de São Paulo acertou ao apoiar a reforma Tributária e erra ao insistir em dizer que representa a direita. O futuro de Tarcísio é promissor caso ele foque na agenda econômica

ADRIANO OLIVEIRA
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ADRIANO OLIVEIRA
Publicado em 09/07/2023 às 0:27
DIVULGAÇÃO/GOVERNO DE SÃO PAULO
Governador Tarcísio de Freitas - FOTO: DIVULGAÇÃO/GOVERNO DE SÃO PAULO

O início do governo Lula foi demasiadamente pessimista em razão de duas premissas: 1) O novo Parlamento é conservador. Portanto, será refratário às proposições advindas do presidente da República; 2) A eleição presidencial foi fortemente acirrada. Portanto, Jair Bolsonaro, como ex-presidente, liderará a oposição ao lulismo.

São vários os problemas na análise política. O primeiro é que o analista confunde ruído com fato importante, isto é, aquele que tem o poder de gerar diversos novos fatos. O segundo, a análise considera apenas o presente, e despreza o futuro. Por fim, o total desprezo da dinâmica da realidade.

A Câmara dos Deputados conservadora, como muitos anunciavam, aprovou o novo arcabouço fiscal e a reforma Tributária proposta pelo governo Lula. O atual mandatário da República assumiu em janeiro de 2023, e em julho de 2023, as frisadas reformas foram aprovadas e o caminho para o crescimento econômico está pavimentado. Os deputados fizeram a sua parte. Agora, é com os ministros do Lula.

O ideal para o governo Lula é que o Congresso seja realmente conservador, pois desta forma, o presidente da República pode distribuir para os deputados, verbas, cargos, dentre outros benefícios. Será inocência eleitoral por parte dos parlamentares, desprezar as ofertas de um governo que está no início. Se o Parlamento não fosse conservador, a ordem do toma-lá-dá-cá seria modificada para prejuízo de quase todos os políticos. Ressalto que as instituições têm o papel de controlar o exagero na relação governo e Parlamento.

Como bem explico em meu novo livro, o antilulismo, observado na eleição de 2018, estava presente na eleição de 2022. E na última eleição presidencial, o antibolsonarismo surgiu como fenômeno novo para concorrer com o antilulismo. A disputa entre Lula e Bolsonaro foi caracterizada pela rejeição. Como bem previ em meados de 2021, o candidato que tivesse a menor rejeição, numa realidade de alta rejeição, venceria o pleito. E assim ocorreu com Lula.

Quem conhece bem o passado da era lulista, sabe que o atual presidente da República tem capacidade de diálogo e distribui poder quando é necessário. O atual presidente, acertadamente, apoiou a reeleição de Arthur Lira à presidência da Câmara dos Deputados. E quem era Arthur na era Bolsonaro? O protetor do presidente Jair Bolsonaro e o ator político relevante que poderia, caso o então presidente aceitasse, conduzir, através dos seus conselhos e ação, Jair Bolsonaro para nova vitória. Após a chegada de Lula à presidência, o sábio Lira e o sábio Lula, descobriram que o poder é para todos. Por consequência, novo acabou fiscal e reforma Tributária aprovados em troca de emendas e ministérios.

Qual é o futuro de Tarcísio e do PL? A condição (hipótese) fundamental para responder a esta indagação é que o governo Lula terá de razoável para alta popularidade. Pois bem! O governador de São Paulo acertou ao apoiar a reforma Tributária e erra ao insistir em dizer que representa a direita. O futuro de Tarcísio é promissor caso ele foque na agenda econômica. O sucesso de Guilherme Boulos ou de outro candidato da centro-esquerda na disputa pela prefeitura de São Paulo mais o aumento da popularidade do presidente Lula (caso ocorram) obrigam Tarcísio à disputar a reeleição e adiar o sonho presidencial.

O futuro do PL não depende de Jair Bolsonaro. Mas da sabedoria de Valdemar Costa Neto. Bolsonaro seguirá, com menor força, a ser cabo eleitoral de postulantes ao cargo de vereador na eleição vindoura. Não será ator importante para candidatos ao cargo de prefeito, em particular, nas cidades do Nordeste. O 22 contaminará negativamente os postulantes às prefeituras nordestinas.

Independente do futuro do governo Lula, o qual, repito, vislumbro como de razoável para bom, é necessário que o PL inicie a transição do bolsonarismo para o centro. E, concomitantemente, os candidatos PL, incluso, prefeitos candidatos à reeleição, abandonem qualquer tipo de associação ao bolsonarismo, e foquem fortemente nos problemas da cidade. Todavia, alerto: talvez tais ações não sejam suficientes para conduzi-los ao sucesso eleitoral.

O PL hoje não tem liderança para apresentar em 2026. Ele sonha, desconfio, com Tarcísio. Mas os Republicanos, partido do governador de São Paulo, não irá perdê-lo, pois Tarcísio poderá conduzi-lo a três cenários em 2026: 1) Os Republicanos disputam a presidência da República com Tarcísio; 2) Tarcísio ficará neutro na eleição presidencial, assim como os Republicanos, e disputa a reeleição com grandes chances; 3) Tarcísio é reeleito governador de São Paulo, ficará neutro na eleição presidencial, e os Republicanos indica o vice de Lula caso este dispute a reeleição. O ruim de falar sobre o futuro é antecipar a dor e as conquistas. Mas o contrário também é verdadeiro, pois quando estamos diante de evidências que sugerem quase que nitidamente o futuro, devemos agir para chegarmos bem-posicionados.

Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: pesquisas & estratégias

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