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No bom debate da educação, é preciso acordar para o futuro!

O aluno é o centro do processo de ensino e de aprendizagem, e não mais o professor. No entanto, não quero dizer com isso que o professor tenha perdido seu protagonismo, pelo contrário. Ele passa a exercer o papel de mentor, de orientador na busca da solução

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 10/07/2023 às 0:18
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Professor dá aula a alunos do Senai - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

Depois de um twiter – que viralizou para mais de 1,6 milhão de pessoas– do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Pierre Lucena, que também exerce a função de presidente do Porto Digital, mostrando o esvaziamento do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UFPE no período da noite, que sempre foi lotado de alunos nesse turno, e de uma publicação feita a seguir por ele com o nosso grande mestre do mundo digital Silvio Meira trazendo insights importantes sobre a razão desse esvaziamento, veio a matéria do meu dileto colega articulista deste JC, Flávio Brayner, também professor da nossa UFPE, trazendo uma visão distinta do problema. Esse é o bom debate que a universidade brasileira deveria travar na busca de soluções para a atual crise do Ensino Superior.

De acordo com os números oficiais do próprio Ministério da Educação, mais precisamente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de cada 100 alunos que ingressaram em 2011, apenas 41 concluíram a universidade. Uma taxa de desistência de 59%.

Quando olhamos essa taxa por modalidade de ensino – se presencial ou no EaD –, nada é muito diferente. No presencial, a taxa de desistência é de 58%, enquanto no EaD é de 62%. Ou seja, o problema não está na modalidade, mas sim, ao menos no meu entendimento, no modelo pedagógico. O modelo de tamanho único não cabe mais nos dias de hoje.

É preciso diversificar e flexibilizar a oferta. Ninguém aguenta mais assistir a uma aula chata copiada na lousa ou mesmo com exibição de slides de coisas que já estão muito bem postas nos livros e na internet. Certa vez, conversando com o saudoso mestre Ariano Suassuna sobre uma aula que havia dado na UFPE, ele me disse uma coisa: aula sem enredo, sem uma história, não prende os alunos– eles precisam de encantamento.

Entendo que o modelo híbrido que incorpora ao ensino presencial o modelo de ensino a distância usando as novas tecnologias, tendo por base a metodologia de aprendizagem baseada em projetos– o chamado PBL, do inglês project-based learning–, é uma extraordinária possibilidade. Contudo, é preciso formar os professores para que usem essa metodologia. Trata-se de uma abordagem que envolve o trabalho colaborativo entre os alunos, na qual eles trazem suas experiências e conhecimentos em busca de soluções para os problemas em estudo. O aluno é o centro do processo de ensino e de aprendizagem, e não mais o professor. No entanto, não quero dizer com isso que o professor tenha perdido seu protagonismo, pelo contrário. Ele passa a exercer o papel de mentor, de orientador na busca da solução.

Nesse novo cenário, não podemos esquecer a revolução em curso provocada pelo advento do ChatGPT, que está popularizando o uso da inteligência artificial generativa como recurso na busca e na produção de conteúdos em texto através de um Chatbot (programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas) de respostas imediatas. Nesse ambiente disruptivo, já estão sendo construídos robôs para ter empatia artificial, com inteligência emocional, escuta ativa e comunicação acolhedora. Esse trabalho, conduzido pelo cientista Scott Sandland, pretende dar aos robôs com tais habilidades a capacidade de serem terapeutas digitais – como ele diz: “Quando ficamos amigos de alguém, entendemos o valor dessa pessoa, os melhores conselhos a dar, as perguntas que podemos fazer”.

Precisamos acordar para a educação. É essencial que as nossas lideranças entendam esse novo cenário ou vamos pagar caro por isso no futuro.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

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