OPINIÃO

Os radicais

O radicalismo faz com que brasileiros joguem contra o país, como quem torce contra a seleção em jogo da copa do mundo.

SÉRGIO GONDIM
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SÉRGIO GONDIM
Publicado em 14/07/2023 às 0:00 | Atualizado em 14/07/2023 às 5:57
THIAGO LUCAS/ DESIGN SJCC
A invasão dos imbecis - FOTO: THIAGO LUCAS/ DESIGN SJCC

No futebol, torcedor fanático não abre. Se ficar claro que foi mão na bola, insiste em bola na mão. Se o impedimento é óbvio, garante que foi na mesma linha. Se o time perde, diz que foi complô do juiz e da federação. Faz parte do jogo e o apaixonado acompanha o time até a última divisão, na esperança de que seja campeão do mundo.

Na política também ficou assim. Virtudes, só no time escolhido. Se o capitão do time usar a máquina pública a seu favor, se mentir ou atentar contra a saúde pública, estará lutando pela liberdade. Se fechar os olhos para corrupção, se participar dela, se aplicar dois pesos e duas medidas ao analisar regimes políticos do mundo, será uma questão de narrativa.

Até na ciência fecha-se questão, transformando hipóteses em certezas. Isso ficou claro na pandemia onde quem cravou tratar-se de uma virose leve, automaticamente assumiu posição partidária dogmática em relação ao uso de máscara, isolamento, tratamento precoce e vacinas. Houve até torcida por efeitos colaterais da vacina, a mais incompreensível e violenta das torcidas, muito mais danosa do que a das organizadas no futebol.

Temas científicos passaram a ser tratados como se fossem plataforma política, um conjunto de crenças, defendendo teses presumidas de forma incondicional, mesmo sem pé ou cabeça, de forma semelhante à defesa de um gol de mão. Mão santa, dirão.

Incrível como tanta gente boa foi envolvida por esse clima e entrou na torcida fanática da política, incorporando também o posicionamento contrário às urnas eletrônicas, independente dos fatos. Um pacote completo.

O fanatismo político desencadeia casos de pânico quando o time perde. Ameaça de fuga, falta de ar, insônia e palpitações, como se estivesse chegando o Talibã. Na Síndrome, não há racionalidade e o que domina é a previsão de caos divulgada em massa nas redes da falsidade. Cogitou-se até invadir o gramado e exigir prorrogação, alegando depois que seria para pacificação. Engraçado, se não fosse trágico. Felizmente prevalecem regras dentro e fora das quatro linhas e a legalidade.

No futebol, a violência e o racismo invadiram as arenas sob olhar complacente. Na política, o fanatismo oculta erros, cria um universo paralelo, abre portas para o arbítrio.

Não existe time perfeito, mas algum há de ser mais leve e solto, jogando bonito para alegria da geral. As arquibancadas reclamam por mais entrosamento, melhora no meio de campo e do centroavante. É assim mesmo no campeonato da política, com aplausos e críticas a torcida tem poder para decidir a formação do time a cada nova temporada. Até lá, segue o jogo democrático, mas com uma diferença fundamental em relação ao futebol. Na política, seria esperado que todas as torcidas se unissem para que todos os times do país vençam, principalmente os pequenos.

O radicalismo faz com que brasileiros joguem contra o país, como quem torce contra a seleção em jogo da copa do mundo.

Sérgio Gondim, médico 

 

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