OPINIÃO

Suspensão do Programa Ganhe o Mundo 2023: um erro estratégico

Pernambuco perde "por esperar", "adiar", o tempo passa e muitos estudantes perderão esta oportunidade. Infelizmente, tem sido assim em outras áreas de interesse da sociedade.

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Publicado em 15/07/2023 às 0:00 | Atualizado em 15/07/2023 às 7:55
TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM
Programa já mandou mais de 8 mil alunos da rede estadual para fazerem intercâmbio no exterior - FOTO: TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM

A educação básica no Brasil não tem tido a prioridade necessária para o desenvolvimento da nação, e os números das avaliações mostram a catástrofe que é a qualidade do ensino fundamental e ensino médio. Naturalmente houve evolução, mas muito aquém do necessário para o momento atual do Séc. XXI. E existem exceções à regra, com muitos estados e municípios demonstrando que a educação formal pode sim ter prioridade. Programas exitosos promoveram ótimos resultados, como alfabetização no Estado do Ceará e escola de tempo integral em Pernambuco.

A relação ensino-aprendizagem na escola de tempo integral vai além de ter mais tempo para as disciplinas básicas do currículo. Os estudantes precisam ter "uma cesta de atividades para dentro e fora da escola". Precisam sair da escola ao concluir o ensino médio "prontos" para continuar na vida acadêmica ou seguir, já, uma vida profissional (que geralmente exige um conhecimento técnico ou tecnológico).

Dentre as diversas atividades e oportunidades proporcionadas aos estudantes do ensino médio em Pernambuco na "cesta de atividades", iniciada em 2011 na Gestão do saudoso Governador Eduardo Campos e implantado pelo autor deste texto, então Secretário de Educação do Estado, está o programa Ganhe o Mundo. Programa exitoso, criado de forma criteriosa, com estudantes selecionados com base na competência individual de cada um, previamente preparados com cursos de inglês ou outra língua nas suas escolas, por equipes de excelência, e com aulas além do currículo padrão. O programa foi implantado em todos os municípios do estado, sem exceção. Não teve "projeto piloto".

Os primeiros anos desde 2011 até o período crítico da pandemia transcorreu na normalidade, com uma média de 1000 alunos por ano participando do projeto. Veio a pandemia, o programa foi suspenso, e posteriormente continuou suspenso por decisão da gestão anterior. Primeiro erro estratégico. Acabamos de ler, com muita tristeza, que o programa continuará suspenso (sem viagens) em 2023. Investir na educação é um processo complexo, pois não adianta cuidar de uma parte e não priorizar outras. Envolve infraestrutura, cuidados educacionais (incluindo salariais) com os professores e gestores e muita atenção com os estudantes.

O investimento (não é gasto!) no programa Ganhe o Mundo não é exorbitante, considerando o orçamento para a educação em Pernambuco. O argumento de que o processo licitatório está sendo revisto conforme indicações do TCE (que certamente são necessárias para a transparência do processo e o bom uso dos recursos públicos) não deveria ser um motivo para esta decisão, pois este fato deveria ter sido visto no momento da transição no final do ano passado, e ter sido corrigido em tempo hábil de forma que as aulas de inglês ocorressem no primeiro semestre de 2023 e os estudantes começassem a viajar no segundo semestre de 2023, quando inicia o ano letivo nos Países para onde os estudantes normalmente vão.

Pernambuco perde "por esperar", "adiar", o tempo passa e muitos estudantes perderão esta oportunidade. Infelizmente, tem sido assim em outras áreas de interesse da sociedade. Mas fica a lição, e que o programa volte "com força", e os estudantes ganhem o mundo, porque assim Pernambuco também ganha.

Anderson Gomes, professor titular da UFPE, ex-Secretário de Educação de Pernambuco, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Pernambucana de Ciências

 

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