O desempenho de ACM Neto como candidato a governador da Bahia na eleição de 2022 é emblemático para os apaixonados pela pesquisa de intenção de votos. À época, era raro encontrar pessoas que desconfiavam da derrota do candidato do União Brasil. Ele era o favorito. Não existia a mínima chance para o candidato do PT. A radical certeza advinha da leitura costumeira da pesquisa eleitoral quantitativa.
Em 15 de julho de 2022, pesquisa da Genial/Quaest mostrou que ACM Neto liderava a disputa com 61% de intenção de votos. O candidato do PT, e hoje, governador eleito, aparecia com 11%. João Roma, candidato do então presidente Jair Bolsonaro, 6%. O olhar puramente quantitativista possibilitava a crença equivocada de que o ex-prefeito de Salvador era favorito a vencer a eleição.
Por outro lado, os olhares qualitativo e conjuntural permitiam considerar que apesar do aparente favoritismo de ACM Neto, o candidato do PT conquistaria eleitores e poderia vencer o pleito. Portanto, não existiam favoritos. Ressalto, contudo, que João Roma, em nenhum momento, deveria ter sido considerado como competidor com chances de vencer a eleição.
As contrário da pesquisa de intenção de votos, as pesquisas qualitativas não trazem, apenas, o retrato do momento. São as pesquisas qualitativas que têm a capacidade de mostrar que o lulismo na Bahia é consolidado em grande parcela do eleitorado, o bolsonarismo é fortemente rejeitado, e a era de governos do PT é bem avaliada. Isto significa que se ACM Neto considerasse as evidências extraídas da pesquisa qualitativa, isto é, os desejos e sentimentos dos votantes, não acreditaria em nenhum instante no seu suposto favoritismo.
Se pesquisa de intenção de voto é o retrato do momento, por que candidatos insistem em fazê-la repetidamente, inclusive, em curto espaço de tempo? Tenho três hipóteses explicativas: 1) Candidatos gostam da intenção de votos para reforçar a ilusão eleitoral, a qual serve de incentivo para a eleição; 2) Quando pesquisas qualitativas antecipam o resultado da eleição, a magia da disputa eleitoral é enfraquecida, perde a graça. Portanto, candidatos desistiriam antecipadamente do pleito; 3) Políticos não acreditam e nem gostam de previsão eleitoral, pois se acreditassem, talvez não disputassem eleição. E políticos gostam de disputar eleição.
Na eleição de 2018 para o governo de Pernambuco, o então governador Paulo Câmara, tinha a derrota cantada em todos os cantos. Armando Monteiro era o favorito, poisliderava em todas as pesquisas de intenção de votos. Inclusive nas minhas. Todavia, duas ações me levaram a afirmar em julho de 2018, que Paulo Câmara venceria a eleição. As pesquisas qualitativas que realizei mostravam nitidamente que (1) o lulismo era forte no eleitorado, especialmente, em cidades do interior; (2) estava presente em parcela dos votantes a memória positiva para com o ex-governador Eduardo Campos; (3)o então presidente Michel Temer era fortemente rejeitado.
A sabedoria de alguém possibilitou que Mendonça Filho e Bruno Araújo, ex-ministros do governo Temer, fossem candidatos ao Senado na chapa de Armando Monteiro. Portanto, a tempestade perfeita estava presente para conduzir novamente Paulo Câmara ao governo do Estado. Monteiro, Mendonça e Araújo era o lado de Temer. Fernando Haddad e Paulo Câmara estava ao lado de Lula.
Em vez de adotar a tradicional pesquisa de intenção de votos no pleito de 2018, indaguei, nas pesquisas quantitativas, se o eleitor já tinha candidato ao governo do Estado. E se sim, quem era este candidato. A resposta desta última pergunta era espontânea. A cada rodada de pesquisa, verifiquei que mais eleitores verbalizavam o nome de Paulo Câmara e menos votantes, o de Armando Monteiro. Através deste método, mais as pesquisas qualitativas, adquiri condições de afirmar que o candidato do PSB ao governo seria reeleito.
Estamos às vésperas da eleição municipal. Quase que diariamente, tenho acesso à pesquisas de intenção de voto para o cargo de prefeito. Aos candidatos que me pedem opinião sobre elas, recomendo a pesquisa qualitativa, a qual tem o poder de decifrar o futuro quando identifica os desejos e sentimentos dos eleitores e interpreta a conjuntura eleitoral passada, presente e futura.
Quando alguém afirma que pesquisa de intenção de voto é retrato do momento, ele está mostrando com sinceridade que não adiante olhar, neste instante, para os números. Deve-se buscar decifrar o que os votantes pensam e querem para a eleição de 2024. E isto se faz com pesquisa qualitativa. Alerto:é possível que os favoritos de hoje, sejam os derrotados de amanhã.
Adriano Oliveira, Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisas e Estratégias.