Aproximam-se as Copas do Mundo feminina e masculina. Pênalti nunca foi nem é loteria, como pregava Zagallo e outros técnicos. Apesar de seus títulos mundiais, Zagallo foi um dos treinadores que mais mal fizeram ao futebol brasileiro.
Ele passou a vida barrando e perseguindo os maiores meias-construtores de sua época, como Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Zenon e muitos outros, todos craques refinados, o que terminou por tornar-se moda e influenciar técnicos de nossos selecionados.
Trocaram os grandes meias-armadores pelos nefastos “volantes de contenção”, de preferência violentos e pernas-de-pau - e deu no que deu.
Lembro de Alagoano, center-half nos anos 40, do Botafogo da Bahia. Negro de meia estatura e pernas arqueadas, botava a bola na marca do pênalti, recuava, o juiz apitava, ele caminhava devagar e, friamente, em linha reta, em direção à bola, o goleiro não sabia se ele ia chutar com a direita ou a esquerda. Bola rasteira, num canto, goleiro no outro.
Aí, ele tirava o gorro alvirrubro da cabeça e saudava sua torcida, rindo e curvando-se em referência pra ser delirantemente aplaudido.
Converteu a penalidade máxima, em 1942, eu tinha 7 anos, e nunca mais esqueci. O Botafogo ganhou o torneio-início várias vezes com seus gols de pênalti. E vejam que os times adversários tinham excelentes “quíperes”: Leça do Bahia, Menezes do Vitória, e Nova do Galícia, todos campeões baianos: Leça, Arnaldo e Zé Grilo; Menezes, Valter e Walder; Nova, Carapicu e Daruanda. Não consultei o Google - ele falha muito. É na memória.
Cada time tinha o seu “cobrador” oficial de pênalti. O especialista, que não errava. O do Tricolor de Aço era o ponta esquerda Isaltino. Do Leão da Barra, Juvenal. Dos Granadeiros, Tuta. Do Guarany, Aureliano. Do Flamengo, Vevé. Do Vasco, Chico.
Conversando outro dia, com o ex-ponta esquerda do juvenil do Náutico, Henrique Campelo, hoje engenheiro civil aposentado da Chesf, ele contou que foi jogar no Rio, nos anos 50, pelo selecionado pernambucano universitário, contra o Estado do Rio, e na decisão por pênaltis, o ponta Mainha, de Pernambuco, converteu mais de 20 (ele falou 20) pênaltis seguidos, e Amaro, volante do América do Rio, terminou perdendo um - e Pernambuco se classificou.
Joguei com Mainha no juvenil do Sport, bicampeão invicto (54/55), inclusive a final com o Santa Cruz, na Ilha. A linha de frente foi: Léo, Almir, Maninho, Elcy e Mainha. Eu nunca vi Mainha perder um pênalti. Pênalti não é loteria. Pênalti batido com classe, tranquilidade, tiro seco e rasteiro num canto, arqueiro no outro.
Tá dado o recado aos interessados.
Arthur Carvalho, Associação Brasileira de Imprensa – A B I.