Opinião

O que direi?

Há um lastro de interioridade que somente se revela coma intensa busca do Ser

FÁTIMA QUINTAS
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FÁTIMA QUINTAS
Publicado em 28/07/2023 às 22:41
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Sou uma extensão corpórea unificada. Em cada gesto, um novo apelo - FOTO: leninscape/ Pixabay

O mundo que não se traduz me cativa. Há um lastro de interioridade que somente se revela coma intensa busca do Ser. Ignoro quem sou, mas os anseios me estimulam a vivenciar o dia a dia. Melhor dizendo: cada instante que transcorre desenha as dubiedades. Quantas vezes a mesma indagação se instala em momentos os mais diversos? Desejo ativar os mergulhos que me afogam. Hoje de um jeito, amanhã de outro. Pouco importa. Sou uma extensão corpórea unificada. Em cada gesto, um novo apelo. E, assim, caminho por entre intensas polaridades. Nada mais encantador que a explosão de segredos. Inspiro a todo instante mistérios da existência. Vou e volto em uma caminhada indefinida.

Desconheço a ansiedade do ego. Ela persiste, todavia. Alguma coisa que explode intensamente sem que jamais justifique as verdadeiras razões. Não faz mal. O tempo passa e, assim, vou me conhecendo ou desconhecendo a cada amanhecer. Ando de um lado para o outro e, jamais, renuncio aos meus constantes apelos. São tantas as incógnitas e, no entanto, desejo-as com intensidade. Afinal, tudo depende dos ocultos mistérios. Vivo e revivo dramas complexos e enigmáticos. Quem disse que me mostro no espelho? Meu rosto se esconde dia a dia. Há um excesso de interrogações que ganha terreno. Afinal, o lado oposto do que sou me completa em múltipla harmonia. Descobrir é um verbo que me exalta. Tenho uma especial atração por conhecer-me. Serei única nesta invasiva interrogação? Creio que não.

O mundo me parece repleto de surpresas. Algumas, ótimas; outras, nem tanto. Pouco importa. Vale a capacidade de cada um no mergulho do cotidiano. Preciso lançar-me sempre e sempre nos abismos da consciência. Então, dilatarei o meu ego na intenção de reavivá-lo sob a hoste de múltiplas interrogações. Que direi eu no primeiro momento? Não sei. O ato de escrever me transforma dia a dia. No entanto, sou incapaz de conhecer-me. Há lacunas que se somam intensamente. Não nego os anseios permanentes. Serei sempre uma dúvida instalada.

São tantas as angulações que o corpo se excede no ato de desnudar-se. Não há limites para as inquietudes. Entrego-me por completo à existência e acabo por perder-me diante do que deveria traduzir. Jamais me descubro, essa a verdade maior. Não adianta enganar-me, estarei sempre na via do dúbio. Os receios aumentam. E o constrangimento de me ver parece explodir a todo instante. Não faz mal. O relevante é seguir a caminhada sem temores antecipados. Devagar, porém, com a eterna intenção de prosseguir.

Eis-me incompleta. Algum dia serei capaz de conceituar-me? Não acredito. O mundo se modifica a todo instante, tal qual os apelos da vida. Melhor abraçá-los com o impulso de absoluta plenitude. Tudo ao redor me constrange. Eis-me tão intensa que avanço na escalada do dia e da noite. Não sou capaz de retrair-me. Quantos antagonismos pululam no entorno! Surpreendo-me, mas acato todos. Assim, caminho entre polaridades. Certamente de mãos dadas, a multidão prossegue. Na minha insignificância desapareço. Recuo com receio de definir-me. Desde quando conhecerei os meus dogmas? Que todos se recolham para um dia confessar-me livremente.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras

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