OPINIÃO

É preciso trazer novamente a ciência brasileira para seu lugar de importância

Sem uma política de absorção de jovens pesquisadores, vamos continuar a perdê-los para países desenvolvidos que valorizam a ciência, a pesquisa e a inovação.

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 08/08/2023 às 0:00 | Atualizado em 08/08/2023 às 15:54
Thiago Lucas/ Design SJCC
É preciso trazer novamente a ciência brasileira para seu lugar de importância - FOTO: Thiago Lucas/ Design SJCC

Ao longo das últimas décadas, com exceção dos últimos quatro anos, a ciência e a pesquisa em nosso país experimentaram um crescimento relativamente importante, tanto no que concerne à consolidação de seus programas de pós-graduação como à expansão da produção científica. Não foi à toa que o Brasil se colocou próximo à Coréia do Sul no ranking da produção de artigos científicos. Outro exemplo é o sistema de avaliação dos cursos de pós-graduação, realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que ganhou o respeito da comunidade científica nacional e internacional. Quando dizemos "relativamente" é porque ainda tínhamos alguns desafios a vencer para chegar mais perto do resultado de países que estão no topo da produção científica. Entre os desafios, segundo Marco Antônio Zago, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), tomando como referência as 302 universidades e instituições de Ensino Superior do Brasil, destacam-se:

a) apenas 11% têm volume de publicações visíveis nos rankings internacionais;

b) de 5 a 7% das universidades têm mais de 1 a 5% de suas publicações na faixa de 1 a 10% top de impacto; e

c) apenas 7 universidades públicas brasileiras estão entre as 1.000 universidades líderes mundiais.

O importante, por outro lado, é que o país estava trabalhando para vencer esses desafios. Infelizmente veio a pandemia, associada a um governo negacionista: além de queda, coice.

O recente levantamento publicado pela Agência Bori - serviço que conecta a imprensa e a ciência brasileira- e pela Elsevier- uma editora de publicações científicas- abalou a ciência brasileira. Esse levantamento revelou que, em 2022, o Brasil teve sua primeira queda na publicação de artigos científicos desde 1996. A redução foi de 7,4% em 2022, em comparação ao ano anterior. O índice é o pior entre 51 países analisados, igual ao da Ucrânia, como revelou matéria publicada na Folha de S. Paulo de 24 de julho último, intitulada "Produção científica no Brasil tem queda inédita e no mesmo nível da Ucrânia em guerra". Nesse levantamento, foram considerados os 51 países que publicaram mais de 10 mil artigos em 2021. Eles já representam praticamente 95% de toda a produção científica mundial.

Como relata essa matéria da FSP, em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, foram publicados cerca de 77 mil artigos. Um ano depois, esse número subiu para 80 mil, e, em 2022, caiu para 74 mil. Isso se assemelha muito ao que aconteceu com a educação brasileira no campo da aprendizagem escolar. O Brasil, diferentemente da maioria dos países, passou muito tempo com escolas e universidades fechadas.

Assim como meus colegas membros do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), já vínhamos notando, nos últimos anos, uma queda importante na demanda por bolsas e auxílios de pesquisa, que parece agora retomar fôlego. Concomitantemente a isso, nestes últimos quatro anos tem-se verificado lamentavelmente uma fuga significativa de jovens cientistas do Brasil, desmotivados pela ausência de uma política de absorção após a conclusão de seus cursos de pós-graduação- além de valores de bolsas muito aquém do mercado de trabalho. É preciso urgentemente reverter esse quadro. Já temos algumas boas notícias nestes primeiros meses de 2023, como o reajuste dos valores de bolsas de pós-graduação e de pesquisa. É um primeiro passo, mas, sem uma política de absorção desses jovens pesquisadores, vamos continuar a perdê-los para países desenvolvidos que valorizam a ciência, a pesquisa e a inovação.

Mozart Neves Ramos , titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE. 

 

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