É inegável que, independente de sua origem ser antropogênica ou não, a crise climática está instalada à nível mundial. Os registros científicos e os fatos observados não deixam dúvidas. A quebra dos recordes de altas temperaturas, em inúmeros países e nos oceanos, são diários. Grandes incêndios e enchentes, de proporções nunca antes registradas e em diferentes regiões do planeta, corroboram com o diagnóstico científico do pior cenário possível: extremos climáticos.
Para relevante parte das instituições científicas, organizações intergovernamentais, como a ONU, e pesquisadores envolvidos com estudos sobre o Clima e avaliações climáticas o “ponto de não retorno” já foi atingido. Mas, além disso, o pior cenário para a biosfera vem se cristalizando numa velocidade inesperada e o ápice das mudanças não pode ser determinado com precisão, podendo tanto ser para daqui a alguns anos ou para “depois de amanhã”, o que só faz aumentar as preocupações, principalmente em relação às populações mais vulneráveis, apesar de ninguém, absolutamente ninguém estar livre das consequências como, por exemplo, fome e inundações em escalas bíblicas.
Apesar dessa avaliação negativa existem tecnologias e especialistas que podem ajudar a mitigar esse dramático cenário. Para o enfrentamento da quase certa severa e longa seca temos diferentes tipos de dessalinização de água salobra e dos mares. Já existe uma experiência mundial e nacional relevante e exitosa, valendo a pena ressaltar que, nesse contexto, a energia de origem hidráulica simplesmente irá desaparecer. Portanto, teremos que aumentar a escala dos investimentos em outras fontes energias, preferencialmente renováveis e coerentes com o esse futuro contexto, inclusive para quaisquer das alternativas de dessalinização, tanto para as de grande quanto as de pequeno porte.
Para as enchentes temos condições de construção de inúmeras e necessárias barragens. Para populações ribeirinhas vulneráveis podemos acelerar e dar escala em programas de habitação popular, criando moradias em áreas mais seguras. Ou até mesmo o financiamento de construção de lajes quando não houver possibilidade de remoção dessas comunidades. Valendo a pena lembrar que já existem experiências exitosas, e de relativo baixo custo, particularmente quando existe a participação de mão de obra dos próprios moradores. Para bairros ou cidades inteiras com enorme risco de sofrer com deslizamentos de encostas, soluções específicas terão que ser encontradas para evitar catástrofes, já vivenciadas em diferentes regiões do nosso país, mas que agora serão a regra e não a exceção,
Quanto a agricultura temos que ter estratégias tanto para secas de extraordinária magnitude quanto para chuvas intensas, inclusive de granizo, geadas, etc. Ressaltando que, portanto, existe um altíssimo risco de grandes quebras de safras agrícolas. Quanto às altas temperaturas, beirando o insuportável para a vida humana, devemos iniciar e dar escala ao plantio de árvores que possam aumentar a área sombreada e diminuir as “ilhas de calor”, assim como mudar os parâmetros edificantes, como por exemplo o aumento do percentual de área verde, do “pé direito”, etc. Sem falar da inevitável mudança de horário das atividades humanas, pois será impossível manter o atual padrão de 08 às 17 horas.
Em relação à proteção da costa brasileira existem experiências de várias cidades para tentar conter o “avanço do mar”. Algumas exitosas, que podem servir de referência inicial para a diminuição do potencial destrutivo de até mesmo pequenos aumentos do nível do mar, embora o cenário mais otimista seja de um aumento mínimo de 30 cm.
Portanto, com o quadro acima relatado necessário se faz que comissões específicas de planejamento de ações mitigatórias sejam criadas e instaladas imediatamente, tanto a nível federal quanto regional, com prazo determinado (de maior brevidade possível) de apresentação e divulgação de relatórios que incluam, obrigatoriamente, ações, custos e tempo de implementação das possíveis intervenções sugeridas.
O tempo urge. Atitudes negacionistas e protelatórias, ou inação não intencional, serão corresponsáveis pelo gigantesco desastre humanitário e ambiental que se avizinha.
Aurélio Molina, Ph.D, professor Associado da FCM-UPE e membro da Sociedade Brasileira de Bioética, da SOBRAMES, do IPHM e das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina.