Educação para construção de um mundo pacífico
A educação para paz não é um objetivo a ser alcançado, mas sim uma jornada contínua de aprendizado e transformação que deve ser cultivada ao longo da vida
Conflitos armados, guerras, violência doméstica, estupros, assaltos, tráfico de drogas, homicídios, corrupção, terrorismo, desigualdades, discriminações, polarizações, são indicadores de um mundo que urge múltiplas ações para minimizar seus impactos destrutivos de sociedades.
O Instituto de Economia e Paz (Institute for Economics and Peace)-IEP publicou os relatórios Ínidce Global da Paz( Global Peace Index 2023) e Valor Econômico da Paz ( Economic Value of Peace 2021). Estimou o impacto econômico da violência e do conflito na economia global. Em 2019 foi US$ 14,4 trilhões. Isso equivale a 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) global ou US$ 1.895 por pessoa. A metodologia considera 13 tipos de violência, e inclui 18 indicadores que cobrem os custos diretos e indiretos da violência e os gastos para conter prevenção. O indicador Global da Paz avaliou 3 conjuntos de indicadores (Segurança da sociedade, conflitos nacionais e internacionais, militarização). Os países melhor classificados foram: Islândia, Dinamarca, Irlanda, Nova Zelândia, Áustria, Singapura, Portugal, Eslovênia, Japão, Suiça e Canadá. O Brasil ocupou a trágica classificação (132) entre 163 países pesquisados. Indicador que é agravado pela insegurança da sociedade. Nesse domínio, classificou-se na posição 153. O impacto econômico da violência no país foi estimado em U$483 bilhões.
Para a solução sustentável desses graves problemas, a educação para a paz emerge com a abordagem para transformar mentalidades e construir um futuro mais harmonioso e sustentável. Precisa ser cultivada por instituições públicas e privadas, fundamentalmente nas educacionais, desde a infância. Assim, haverá esperança que as causas dos problemas serão sanadas.
A educação para a paz é uma abordagem que visa à formação de indivíduos comprometidos com a cultura de paz em suas múltiplas dimensões, buscando a resolução pacífica de conflitos, e a promoção da justiça social. Abrange uma variedade de conceitos e práticas. Convida à reflexão e à análise sobre as condições de uma paz sustentável e como alcançá-las. Envolve também compreender e examinar criticamente a violência em todas as suas múltiplas formas e manifestações, e a história dos conflitos, com suas consequências devastadoras. A cultura da paz se constitui dos valores, atitudes e comportamentos que refletem o respeito à vida, à pessoa humana e à sua dignidade, aos direitos humanos, entendidos em seu conjunto, interdependentes e indissociáveis.
Um dos pilares fundamentais da educação para a paz é a construção de uma cultura de diálogo e respeito mútuo. Através do ensino de habilidades de comunicação não violenta, os estudantes são capacitados a expressar suas opiniões de forma respeitosa, ouvindo e compreendendo as perspectivas dos outros. Aprende-se também técnicas de resolução de conflitos de maneira pacífica.
Para viver bem com as pessoas é fundamental que a comunicação interpessoal dê espaço para a interação e troca de saberes. Francisco Gomes de Matos, linguista da Paz, Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, orienta: Na comunicação use verbos edificadores: Democratizar, melhorar, integrar, dialogar, dignificar, humanizar, nutrir, colaborar, empoderar, empatizar, confiar, instruir, esclarecer, participar. E, complementa: Quanto mais positivamente nos comunicarmos e quanto mais dignamente interagirmos, mais dignidade humana elevaremos e a paz relacional se tornará um fato.
Sobre a pedagogia da educação para a paz, o educador Paulo Freire enfatizava que deve centrada no aprendiz, buscando extrair conhecimento de sua reflexão sobre a experiência, em vez de impor o conhecimento por meio de um processo de doutrinação. A aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem, não a partir da experiência em si, mas da experiência reflexiva. A pedagogia da paz transformadora é holística, incorporando dimensões cognitivas, reflexivas, afetivas e ativas na aprendizagem.
Na escola, todos os seus integrantes devem ter como objetivos principais o conhecimento e a construção de valores consistentes para a vida virtuosa. Os adultos são modelos para as crianças e adolescentes. Adultos conscientes, equilibrados emocionalmente, formam cidadãos conscientes, íntegros e éticos. Uma comunidade egocêntrica que não leva em consideração o que ocorre fora dela jamais proliferar a paz. De nada adianta discursos e leis. A paz se constrói no dia-a-dia entre as pessoas com quem se convive, fundamentada nos princípios de amizade, zelo, amor, disciplina, respeito, tolerância, responsabilidade, justiça, diálogo.
A educação para paz não é um objetivo a ser alcançado, mas sim uma jornada contínua de aprendizado e transformação que deve ser cultivada ao longo da vida. Deve ser prioridade em âmbito global, inspirando ações e compromisso de todos os atores na construção de um mundo pacífico e justo.
Eduardo Carvalho, autor do livro Global Changemaker