Mesmo ferido de morte, Maximus foi o vencedor
No filme, os gladiadores permanecem coesos diante de todas as adversidades, mesmo nas contendas mais desafiadoras e desprovidas de esperança.

"Gladiador" é daqueles filmes inesquecíveis que você não cansa de rever. Merece até um spoiler para os que não o assistiram.
O filme se baseia na história do general hispano-romano Maximus Decimus Meridius, um personagem fictício que teria vivido por volta do ano 180 D.C.
Líder natural, seus subordinados o veneravam. Bravura e sabedoria eram os atributos predominantes do legionário.
Logo após as vitórias romanas em Vindobona, na fronteira da Germânia, o imperador Marco Aurélio, já moribundo, decidiu escolher o "Espanhol" como seu sucessor. A missão daquele soldado era combater a corrupção e restaurar a República em Roma.
Cômodo, filho de Marco Aurélio, consumido pelo ódio e pela inveja, ao saber da decisão do pai, mata o imperador antes que ele apresentasse publicamente Maximus como regente escolhido para governar Roma.
O general é preso por pretorianos a serviço do novo imperador. Vence seus algozes em combate desigual e foge para sua terra na esperança de finalmente reencontrar a família.
Lá chegando, ainda ferido, depara-se com esposa e filho violentados e mortos em uma vingança planejada por Cômodo.
Exausto e enfraquecido pelas numerosas pelejas, é aprisionado por mercadores de gladiadores e transformado em escravo.
Sua sagacidade, senso de observação e ascendência hierárquica levam-no a reunir em torno de si os melhores gladiadores do grupo, tornando-os invencíveis nas arenas africanas.
Levados a Roma para participarem dos espetáculos artísticos no Coliseu, uma festa promovida por Cômodo para homenagear seu pai, a quem ele havia assassinado, os gladiadores, liderados por Maximus, vencem suas lutas e tornam-se heróis para a plebe ávida por pão e circo.
O imperador Cômodo surpreende-se ao descobrir que o general a quem ordenara matar estava vivo e, a cada nova vitória, tornava-se mais e mais respeitado pelos romanos e por membros do senado.
Há uma cena, passada dentro de uma prisão, na qual um guarda romano oferece ao general uma tigela de comida. Seus companheiros Hagen, um enorme germano, e Juba, um arisco númida, sentados ao seu lado, sinalizam para que ele não coma aquela ração. Em seguida, Hagen prova a sopa de grãos e assegura-se de que a porção não está envenenada.
Juba então se dirige a Maximus:
- General, sua imagem é muito grande. Eles precisam primeiro destruir sua alma para depois destruírem seu corpo.
É um momento do filme no qual velhos soldados, como eu, reconhecem nas entrelinhas reflexos de liderança natural e confirmam a importância da imagem do comandante atrelada à instituição para a manutenção da coesão e do sentido de existência de forças militares que defendem ideais, valores e tradições de uma nação.
Quando pessoas ou organizações se tornam merecedoras de respeito quase irrestrito por parte da população, antagonistas, à semelhança de Cômodo, não conseguem destruir suas almas por meio do simples desejo de vingança.
Antes eles precisam minar a confiança conquistada pelos gladiadores modernos em anos de servidão. Adotam como estratégia promover persistentes campanhas difamatórias para enfraquecê-la. Somente então se arriscam ao golpe fatal.
A história é fascinante. A obra mereceu todos os prêmios conquistados.
No filme, os gladiadores permanecem coesos diante de todas as adversidades, mesmo nas contendas mais desafiadoras e desprovidas de esperança. E Maximus, ainda que ferido de morte, saiu-se vencedor.
A ficção, por vezes, se torna realidade.
OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS,