A descoberta do cotidiano
Há um mundo de horizontes que envolve o indivíduo. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro e, permanentemente, a mutação a explodir
Todos os dias olho a vida de uma forma diferente. Como se do tempo aflorassem múltiplos anseios. E será que não afloram? Mergulho nos segredos e percebo quão infinitas são as nuances que os cercam. A capacidade de gerar perspectivas me alegra. Sinto-me inteira quando admito o empenho de equacionar variações.
Há um mundo de horizontes que envolve o indivíduo. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro e, permanentemente, a mutação a explodir. Ainda bem que temos tantos floreios em nossa alma! Cabe tão somente usar a imaginação e dela extrair os possíveis anseios.
Os dias se acumulam em um traçado pleno de efervescência. O que importa é a multiplicidade de cada um. Somos diferentes à luz de pulsões exclusivas.
Não adianta fingir imparcialidade diante dos fatos. Urge abraçar o que há de genuíno em cada um de nós. Aplaudir, de maneira infinita, a criatividade que nos cerca.
Amanhecer já sugere perspectivas inúmeras. O florescimento da capacidade da infinitude perdura como um germe de continuísmo diário. De nada vale definir enunciados. O que se torna difícil no ato de escrever é justamente a necessidade de aplaudir a palavra como uma pulsão interior, às vezes silenciosa, outras explosiva.
Creio em um Eu à base de intensas revelações. Importa seguir a caminhada com heroísmo, tal qual a pluralidade de cada gesto. Impossível limitar a voz interior; a explosão acontece em inúmeras dimensões. Serei capaz de recuar o tempo? Nunca. Que as nuances do pensamento se multipliquem em enésimas virtudes.
Refletir revela a maior arte da humanidade. Mudanças ocorrem com persistência. Pouco importa. Vale a intensidade do querer de cada um. Guardo em mim tantas pulsões que jamais desejei narrar o que habita no ímpeto. Sou tão pequena! Como hei de avançar na caminhada? O vagar leva aos enunciados interiores. Como diz o poeta “A espantosa realidade das cousas/é a minha descoberta de todos os dias”.
Necessito, sim, de reflexões diárias e intensivas para encarar o impossível e vencer os minutos que explodem de dentro do ego. Guia-me a razão. Será? Nunca estou certa, sempre à beira de uma realidade multável. Necessito de tantas reflexões que todo e qualquer impulso é pequeno para eclodir os desejos e os desesperos. Urge que a paciência se envolva no ato de persistir. Não há nada mais intenso do que a criatividade em completa efusão.
Planícies e planaltos me cercam. Importa seguir com a paciência dos justos e a ignorância dos humanos. Assim, saberei driblar encruzilhadas. E são tantas que jamais poderemos antecipá-las. Melhor que o dia siga entre a manhã, a tarde e a noite. Assim, saberemos alcançar lentamente os anseios. Não há pressa. Que as horas se consumam em um relógio vagaroso, pleno de certezas e incertezas.
Que poderei dizer diante do universo? O cansaço, por vezes, me abate e não sei como equacioná-lo. Melhor esquecer dúvidas. Afinal, sou tão inocente diante de mim... Ainda bem.
Os olhos piscam em busca de respostas. Não as tenho. Não possuo a capacidade de adivinhar, nem quero. Sou apenas mais uma na grandiosidade do humano. Que o silêncio me ensine a elaborar o instante. Nada escuto.
Percebo-me inteira na pulsão explosiva. Todos somos os mesmos, ainda que tão diferentes, quer no físico, quer no íntimo. E as perguntas crescem à medida que os dias passam. Talvez você saiba responder. Aguardo.
Fátima Quintas é da Academia Pernambucana de Letras