Democracia à deriva: por que os jovens estão abandonando a fé nas instituições democráticas?
A percepção de desigualdade e exclusão na sociedade leva os jovens a acreditarem que a democracia não está funcionando para todos e que seus interesses não estão sendo representados adequadamente.
Uma pesquisa conduzida pela Open Society Foundations com 36.344 pessoas, em 30 países, publicada dia 11 de setembro, constatou que, apesar do apoio à democracia ser relevante em todo o mundo, existem nítidas diferenças entre as faixas etárias. Enquanto 71% das faixas etárias mais velhas validam este sistema político-social para resolver os problemas de seus países, entre os jovens (18 a 35 anos) estes números despencam para 57%.
Quando o recorte da pesquisa evidencia os brasileiros, 74% dos entrevistados apoiam a democracia, um número superior à média global, superando países como Estados Unidos (56%), Reino Unido (58%), França (60%) e Itália (69%).
Algumas considerações sobre este fenômeno são fundamentais para refletirmos sobre a jovem democracia brasileira, considerando que o país passou por um período de regime militar, que durou de 1964 a 1985. A Constituição de 1988 marcou o retorno à democracia e estabeleceu as bases institucionais do sistema democrático atual.
Muitos jovens viveram em um período marcado por crises econômicas, desemprego, instabilidade política e falta de expectativa quanto ao futuro, além de sentirem desencanto com políticos e partidos políticos, percebendo-os como corruptos ou ineficazes. Isso pode ter abalado sua confiança na democracia como um sistema eficaz para resolver problemas.
O uso generalizado das redes sociais expõe os jovens a bolhas de opinião e polarização política, enfraquecendo sua fé na capacidade da democracia de promover o diálogo e a cooperação. As redes sociais têm sido palco para a disseminação de desinformação e propagação rápida de notícias falsas e teorias da conspiração, que acabam por minar a qualidade do debate político e a própria democracia.
A percepção de desigualdade e exclusão na sociedade leva os jovens a acreditarem que a democracia não está funcionando para todos e que seus interesses não estão sendo representados adequadamente.
As instituições democráticas brasileiras têm a oportunidade de se adaptarem e se modernizarem para atender às preocupações dos jovens e demonstrar sua relevância em um mundo em constante evolução, a fim de restaurar a fé dos jovens na democracia e de que o Brasil pode proporcionar oportunidades concretas de um futuro melhor para todos os brasileiros.
Priscila Lapa, doutora em Ciência Política; Sandro Prado, economista.