Cordel do doador
Da palavra doação...Vem serenidade e sabedoria
Não é que dei pra ficar pensando
Nesse tal de doador...
Veja só minha gente,
Que até a semântica ensina...
Não é que a palavra
Guarda em si bondade e dor
Bondade porque quem doa dá o que tem...
E dor porque geralmente quem dá o que tem
Dá para diminuir a dor de alguém...
Doa amor, a quem amor falta
Doa calor, a quem tem frio
Doa comida, a quem tem fome...
E continuei a pensar no doador com morte cerebral
Que faz o cérebro morrer um pouco antes do coração...
Não é morte bonita não...
A morte que vem do acidente de trânsito ou das artérias cerebrais
Do tiro ou da pancada
Do aneurisma que o cérebro inunda
Do coração que pára e volta
Que deixa a família morta de dor e de saudade
De revolta e de assombro
De luto e de pesar...
E que por pura ironia
Da palavra doação
Vem serenidade e sabedoria
Que doando sua dor
Pode antever a alegria
Na vida desconhecida
Que só voltaria
De um simples sim
Que brota entre pranto e agonia
Da generosidade do homem
Eterna, viva e infinita
Catarina Hanne, médica coordenadora da Comissão Intra-hospitalar para doação de órgãos e tecidos para transplante do Hospital Oswaldo Cruz