OPINIÃO

Centenário de Ivo Pitanguy

Com uma linguagem direta, e com grande entusiasmo, apresento a vida e obra do maior mestre da cirurgia plástica

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MOISES WOLFENSON

Publicado em 30/09/2023 às 0:00 | Atualizado em 30/09/2023 às 15:44
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Ivo Pitanguy, nomeado pela New York Magazine como o rei da cirurgia plástica, tornou-se referência para universidades pelo mundo inteiro. Pitanguy nasceu em Minas Gerais 5-7-1923 , faleceu no RJ em 6 de agosto 2016 Ivo Pitanguy - Ícone ou Lenda? Além do bisturi, era um erudito, intelectual e humanista.

Com uma linguagem direta, e com grande entusiasmo, apresento a vida e obra do maior mestre da cirurgia plástica de todos os tempos.  Um momento importante na vida do nosso mestre Pitanguy foi um episódio trágico ocorrido em Niterói, em 17 de dezembro de 1961, o incêndio do Grand Circo Norte Americano, provocado por dois faxineiros que foram demitidos do circo e, revoltados, atearam fogo na lona com a parafina que era usada para impermeabilizar a cobertura do local. Na ocasião, cerca de duas mil pessoas estavam presentes. Um episódio salvou muitas vidas! No tumulto, um elefante saiu correndo, arrastando tudo, inclusive a lona em chamas, esse foi seguindo de uma multidão que escapou ilesa.

O jovem médico Ivo Pitanguy participou do resgate e viu o trabalho com os feridos estimular o desenvolvimento da cirurgia plástica no Brasil. Professor da PUC-RJ, Pitanguy ia para um plantão na Santa Casa da Misericórdia quando ouviu, pelo rádio, o anúncio do incêndio. Desviou o carro e seguiu para o Iate Clube do Rio. A bordo de sua lancha particular, atravessou a baía de Guanabara (não existia ainda a Ponte Rio-Niterói) e foi ao encontro das vítimas; foram quase mil pessoas salvas e tratadas pelo jovem médico e sua equipe.

O médico recebeu 300 metros de pele artificial dos Estados Unidos para tratar gratuitamente aqueles pacientes. O pioneirismo do tratamento, o aperfeiçoamento de técnicas e o lado humanitário do médico se consolidaram em uma trajetória de sucesso admirada e implantada em centros cirúrgicos de vários países. É indiscutível que uma das cirurgias mais complexa é aquela realizada em pacientes queimados

Assim, através da medicina e da literatura convivi com um dos mais importantes cirurgiões plásticos do mundo e uma das maiores personalidades do século XX. Sua humildade e sua inteligência eram invulgares. Pitanguy atendia sem distinção, desde favelados da Rocinha (RJ) ate' os coroados, monarcas da Inglaterra, Rainha Elizabeth e Farah Diba do Irã. Transformou-se numa referência mundial, criandoM técnicas de cirurgia plástica que são seguidas e respeitadas até hoje; especialmente plásticas de mamas e face ( mastoplastias e ritidoplastias.)

Ele também nos contou de seus obstáculos do início da carreira, quando a cirurgia plástica era vista como algo menor; e sua formação profissional por grandes hospitais dos Estados Unidos, França e Inglaterra; a construção de sua clínica em Botafogo, reconhecida e frequentada em décadas por celebridades do cinema ( Gina Lolobrigida), dos esportes( Nike Lauda) e da literatura; ( nos anos 70 tratou a sequela de uma queimadura na mão direita , da Clarice Lispector, a escritora brasileira ,mais lida no mundo , depois de um incêndio no seu apartamento, quando dormiu com um cigarro aceso, junto a uma cortina, acidente gravíssimo em que permaneceu internada por longo tempo em UTI e posteriormente ,tendo realizado múltiplas cirurgias reparadoras na Clinica Pitanguy, quando reconstruiu, sua mão direita ; voltando a mesma ,a escrever seu último livro , o icônico : " A hora da Estrela"

Escrevi a biografia a "Ivo Pitanguy - Além do Bisturi : biografia de uma lenda-". A biografia teve sua autorização em vida. Então, como havia escrito só um capítulo no livro anterior, dediquei todos os capítulos desse livro em uma homenagem aos feitos pessoais e profissionais do professor e amigo Pitanguy".

Poliglota e perfeccionista, Ivo Pitanguy também é descrito no livro como um homem ético, de gestos nobres e além do seu tempo. O autor de 11 livros ,3 deles com prefacio do Dr Pitanguy , o também cirurgião plástico Moisés Wolfenson, teve uma convivência de quase 20 anos com Pitanguy que transcendeu as questões da medicina. Com ele, discutiu mais do que técnicas de reconstrução de mama e de face. Na clinica Pitanguy operou cerca de 60.000 pacientes. Na sua dedicação em atender aos mais necessitados, dando a muitos deles a possibilidade de realizarem cirurgias plásticas restauradoras e estéticas, criou a Fundação Ivo Pitanguy com uma Enfermaria na Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, onde operou cerca de 70.000 pacientes. A Fundação Pitanguy formou mais de 204 cirurgiões estrangeiros (Italia, Alemanha,Espanha, Rússia ...); e 425 cirurgiões plásticos brasileiros ,formados pelo Instituto Ivo Pitanguy .

No ano de 2000, em evento cientifico , aqui no cidade de Recife, juntos com Carlos Alberto Jaimovich, Perseu Lemos, Luiz Carlos Celi Garcia, Rodrigo DÈça Neves, Ivo Pitanguy e Moisés Wolfenson ,propomos a  criação do museu da cirurgia plástica, e logo todos os presentes doaram parte do primeiro acervo do museu da cirurgia plástica . O museu foi inaugurado em 2003, em Fortaleza, num stand adaptado para apresentação do museu da cirurgia plastica , no congresso brasileiro .A inauguração contou com a presença do Prof Ivo Pitanguy.

Em 2016, finalmente foi criado e instalado o museu da cirurgia plástica , em Sâo Paulo, na sede da SBCP ( Soc Bras Cirurgia Plastica), e recebeu o nome do Prof Ivo Pitanguy ( Patrono da cirurgia plástica Brasileira) .

Dessa forma, direi, sem relutar, que existe uma interdependência na cirurgia plástica, entre ciência, arte, cultura e técnica. Isso foi o que me ensinou o prof. Ivo Pitanguy através de sua história de vida e dos conhecimentos compartilhados por ele. Felizmente, graças a Deus e a Apolo-divindade da beleza-Pitanguy não é mais um ícone, o professor é uma lenda .

Moises Wolfenson, M.D,P.hD. em cirurgia pástica, e escritor e historiador, curador do Museu da Cirurgia Plastica

 

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