OPINIÃO

Filhos do progresso: da exclusão à prosperidade compartilhada

Então, enquanto avançamos para mais um capítulo de investimentos em Suape, devemos lembrar que as cidades e as pessoas que compõem esse tecido social são igualmente dignas de investimento e desenvolvimento.

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ROMERO SALES FILHO

Publicado em 30/09/2023 às 0:00 | Atualizado em 30/09/2023 às 15:43
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O cenário em Suape e nas cidades adjacentes de Ipojuca e Cabo, em Pernambuco, apresenta uma situação paradoxal de esperança e desalento. Os grandes investimentos na região, notavelmente com a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e os estaleiros, prometeram um novo amanhecer de progresso e prosperidade. As cidades experimentaram uma explosão demográfica e, consequentemente, demandas sociais emergentes que não foram adequadamente atendidas, apesar das contrapartidas prometidas.

Essas contrapartidas, que incluíam hospitais, escolas técnicas, ginásios, pavimentações, sistemas de saneamento, e outros, começaram a ser construídas simultaneamente com os grandes projetos industriais. Isso resultou em um legado de infraestruturas inacabadas e vidas interrompidas. Jovens, apelidados simbolicamente como "filhos das obras", cresceram em meio a essas estruturas promissoras, mas agora enfrentam o desafio de um desenvolvimento incompleto que lhes deixa à margem das oportunidades. Eles são o testemunho humano de uma dívida social ainda não paga.

O debate sobre a ampliação da Rnest traz uma nova série de promessas e expectativas, com a previsão de um investimento de 6 bilhões e a geração de mais de 40 mil vagas de empregos diretos e indiretos. A lição deve ser aprendida: a prosperidade não pode ser reservada apenas para os projetos industriais enquanto relega as comunidades locais a um segundo plano. A situação atual requer um Grupo de Trabalho multidisciplinar que não apenas discuta os aspectos do desenvolvimento futuro, mas que seja um instrumento de ação direta, composto por membros da sociedade civil, empresários e autoridades locais e federais.

Preparar esses jovens para não apenas serem os construtores deste novo capítulo mas também os ocupantes dessas futuras vagas de emprego é crucial. Eles precisam ser os beneficiários primários deste progresso, não apenas espectadores ou, pior ainda, vítimas. Isso passa por um planejamento integrado que considere qualificação profissional, educação e, sobretudo, saneamento básico e habitação, itens essenciais para qualquer comunidade que aspire a um desenvolvimento sustentável.

As cidades também precisam ser preparadas para a nova leva de pessoas atraídas pelas promessas de emprego. Esse crescimento precisa ser acompanhado de infraestrutura adequada, para evitar os erros do passado. O saneamento básico e o sistema de saúde devem estar preparados para o aumento da demanda; as escolas devem estar prontas para receber mais alunos, e o sistema de transporte deve ser eficiente e acessível.

Então, enquanto avançamos para mais um capítulo de investimentos em Suape, devemos lembrar que as cidades e as pessoas que compõem esse tecido social são igualmente dignas de investimento e desenvolvimento. O papel de todos os envolvidos, da sociedade civil ao poder público, é imenso e deve ser guiado por um senso de responsabilidade compartilhada. Temos uma oportunidade única de corrigir o curso, de transformar esses "filhos das obras" em "filhos do progresso". É um chamado à ação coletiva, a uma responsabilidade mútua, em que cada parte contribui para o bem maior de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável. O momento é agora. E todos devem fazer parte desta nova história.

Romero Sales Filho, deputado estadual de Pernambuco pelo União Brasil_

 

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