OPINIÃO

Capivaras

Luís Coutinho estará lançando o seu livro - vou juntar-me às capivaras, amanhã, dia 05, a partir das 18h, na Livraria Jaqueira

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ARTHUR CARVALHO

Publicado em 04/10/2023 às 0:00 | Atualizado em 04/10/2023 às 14:17
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Vejam a coincidência. Enquanto celebramos o aniversário das nossas capivaras, as páginas no Sul fazem alarde do controle da febre maculosa transmitida pelos carrapatos Estrela, que têm como principal hospedeira a capivara, animal estimadíssimo pelos indígenas que habitavam as margens dos rios pernambucanos, entre eles, o Capibaribe/Capiberibe (como gostava de versejar Manuel Bandeira), o Beberibe, o Tejipió e o Jordão - o poeta, romancista e neurocirurgião José Luiz Coutinho vai lançar brevemente seu novo livro “Vou juntar-me às capivaras”.
Vai que Coutinho resolve celebrar tudo isso no ousado e belo título em versos. E vou logo avisando que recifense e pernambucano algum pode dizer que conhece Recife-Pernambuco sem ter lido este primoroso, instigante, curioso e original tomo desse professor universitário, vate dos bons.
Arrisco dizer que este livro de Luís Coutinho é filho circunstancial da pandemia, conforme ele me confidenciou com sua proverbial humanidade: “Não tendo muito a fazer, resolvi escrever esse texto.” E tenta se justificar - “Aqui, ali/a morte arma ciladas/estão vazias as ruas da cidade e as pessoas padecem/. Confinadas./será que Deus cansou da humanidade?”
Deixando a exagerada modéstia de lado e assumindo a verdade verdadeira sobre sua minuciosa redação, onde cita tanto os clubes grã-finos e tradicionais quanto os ”cabarés da cidade”, com os olhos de criança, Coutinho mistura alhos com bugalhos, e canta a alma lírica, dramática e secular do Recife, penetrando em suas entranhas, pecados e virtudes, sem se envolver nem de longe com insípidos modernismos, falando da recalcitrante Brasília Teimosa, do lendário Chanteclair, da Praça Chora Menino, do Campo das Princesas e, como não podia deixar de ser, do Cemitério de Santo Amaro, por onde ele passa, malandra e cautelosamente, ao largo, guardando a distância em passos ágeis e ligeiros sob a bênção divina.
Diz o ditado que recordar é viver. Esse romance poético de Luís Coutinho com certeza fará parte da seleta galeria dos melhores livros a serem publicados nesta terra Maurícia, e me faz lembrar que quando vim morar no Recife, em 1952, na Rua das Graças, o bairro de casarões coloniais, tinham jardins floridos e fundos de quintais com sapotizeiros, mangueiras, cajueiros e goiabeiras que abrigavam sabiás, sanhaçus e canários da terra. De certo modo, e indiretamente, Coutinho quer resgatar tudo isso na memória nostálgica dos autênticos recifenses. Luís Coutinho estará lançando o seu livro - vou juntar-me às capivaras, amanhã, dia 05, a partir das 18h, na Livraria Jaqueira.


Arthur Carvalho, da  Academia de Artes e Letras de Pernambuco

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