OPINIÃO

Máscara da face

"...Dei-lhe tudo que podia, sem pensar no desenlace; Afinal não merecia, tirou a máscara da face."

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ARTHUR CARVALHO

Publicado em 18/10/2023 às 0:00 | Atualizado em 18/10/2023 às 12:24
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Não me cobrem datas porque não uso nada de internet. Guardadas as devidas distâncias, faço minha a genial frase de Paulinho da Viola, no final do ano passado: "Sou um homem do século 19. Não sei o que ainda estou fazendo por aqui". Vou mais além afirmando que, se São Pedro permitir, completarei mais primaveras em dezembro próximo. Confesso isso porque acho uma frescura negar idade. Sou um senhor idoso mas não decrépito. Estou tentando escrever meu décimo livro, um romance.

Lembrei-me desse samba antigo, Caiu a máscara, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, gravado por Dircinha Batista, agora, com a eliminação do Palmeiras pelo Boca Juniors em casa. Enquanto a imprensa esportiva paulista dizia que o Palmeiras é o maior time brasileiro e sul-americano, eu sustentava, em meus artigos e em conversas com amigos, que só diria que o Palmeiras é o melhor time sul-americano, se ganhasse de um argentino. E perdeu para um Boca desgastado e decadente, longe dos Bocas de outrora.

E a derrota, em pleno terreiro palmeirense, me recordou a noite em que, na década de 50, se não me engano, o Fluminense de Zezé Moreira perdeu para um rival, cujo nome esqueço, e o Maracanã, em peso, cantou "Caiu a máscara". É que o Tricolor de Zé Moreira jogava com a "marcação por zona", a primeira retranca imposta a um quadro brasileiro, na base do contra-ataque, o que lhe valeu o apelido de "timinho". E, acostumado ao Flamengo de Dequinha, Rubens e Evaristo, comandado por Freitas Solich, o Vasco da Gama de Danilo, Maneca e Heleno de Freitas, e ao Bangu de Zizinho, Ladeira e Paulo Borges, todos de futebol alegre e pra frente, o torcedor carioca não aceitava o time de Telê, de futebol triste, defensivo e medíocre. Mas como o Fluminense vinha vencendo mesmo assim, chegando a campeão de 1951, quando perdeu aquela partida, o Maracanã explodiu no desabafo.

O Palmeiras atual, do contra-ataque, esbarrou no Boca retranqueiro, catimbeiro e desleal, como costumam ser os argentinos. Caiu a máscara do grosseiro e mal-educado Abel, nostálgico viúvo de Salazar. O samba diz que: "Deixou, deixou, deixou; Deixou cair a máscara da face. Mostrou, mostrou, mostrou; Mostrou por sí, que nunca teve classe. No começo dei-lhe a mão; depois, depois o coração; Para ela fui um pai, um amigo e um irmão. Dei-lhe tudo que podia, sem pensar no desenlace; Afinal não merecia, tirou a máscara da face."

Arthur Carvalho, do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro.

 

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