OPINIÃO

Los Hermanos: economia, política, eleições e radicalismo

Que nossos Hermanos tenham encontrado o candidato que melhor represente suas esperanças e aspirações, com a construção de um futuro de prosperidade, unidade e progresso para a Argentina, servindo como referência para o fortalecimento da economia e da democracia no continente.

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PRISCILA LAPA E SANDRO PRADO

Publicado em 23/10/2023 às 0:00 | Atualizado em 23/10/2023 às 6:42
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Milhões de argentinos foram às urnas ontem para escolher o próximo presidente do país, em um dos momentos políticos mais importantes da nação sul-americana. O partido Justicialista, também conhecido como Peronismo, é uma das forças políticas mais antigas e influentes da Argentina. Fundado pelo ex-presidente Juan Domingo Perón e sua esposa Eva Perón, o partido tem raízes profundas na política argentina.

O candidato Peronista, Sérgio Massa, é o atual Ministro da Economia desde agosto de 2022 e a alta constante dos preços (inflação) tem sido o seu pior adversário nas urnas. O índice de preços ao consumidor (IPC) chegou a 138,3% no acumulado do ano, agora em setembro, quando o índice mensal chegou aos 12,7%. Atualmente, a inflação da Argentina é uma das mais altas do mundo.

A candidata conservadora de direita, Patricia Bullrich, é apoiada por Mauricio Macri, que governou a Argentina entre (2015-2019), quando contraiu uma dívida externa bilionária, deixando ao final do seu mandato a herança de um alto índice de rejeição. Para tentar apagar a mancha do governo Macri, ela apela em seu discurso por medidas liberalizantes na economia, linha dura na segurança e mudanças a serem realizadas de forma responsável e com total previsibilidade.

Nas eleições primárias realizadas em agosto deste ano, quando 69% dos eleitores foram às urnas, veio a grande surpresa da corrida eleitoral: o candidato Javier Milei "El loco" levou a melhor, com 29,86% dos votos. O ultra direitista libertário adotou estratégias de campanha bastante polêmicas e as direcionou principalmente aos jovens, que estão desiludidos em relação ao futuro da Argentina.

Dentre as frases e ideias radicais com as quais ficou conhecido está a de que o Peso Argentino não deveria valer "nem excremento"; que a venda de órgãos humanos deveria ser um mercado como outro qualquer e que o Papa Francisco é um "esquerdista asqueroso".

Em relação à pauta econômica, prometeu dolarizar a economia, fechar o Banco Central e privatizar as empresas públicas. Certamente, com a sua vitória, as relações entre Brasil e Argentina ficarão conturbadas. A Argentina é o nosso terceiro principal parceiro comercial, sendo superado apenas pela China e pelos EUA. Temos um importante superávit comercial nas relações comerciais com a Argentina, exportamos para o nosso parceiro do Mercosul um portifólio extenso de produtos, incluindo produtos manufaturados com alto valor agregado.

Neste domingo, para vencer já no primeiro turno, os candidatos precisam de 45% dos votos ou 40% dos votos e ter uma dianteira de 10 pontos sobre o segundo colocado na corrida presidencial. Caso isto não ocorra, após a contagem dos votos, que deve terminar na madrugada desta segunda, o segundo turno ocorrerá em 19 de novembro.

Além das questões econômicas, a eleição presidencial na Argentina permite uma visão sobre a dinâmica de funcionamento da democracia nos tempos atuais. Assim como ocorreu no Brasil em 2018 e em 2022, o processo eleitoral foi marcado por desafios como as guerrilhas digitais; as polêmicas sobre a produção e divulgação de pesquisas de opinião pública, com debates sobre a credibilidade dos institutos; e também a mudança na centralidade da economia na agenda eleitoral, com a ascensão de pautas "de costumes", sobretudo a partir do eleitorado mais jovem, por vezes se revelando desacreditado da política.

Que nossos Hermanos tenham encontrado o candidato que melhor represente suas esperanças e aspirações, com a construção de um futuro de prosperidade, unidade e progresso para a Argentina, servindo como referência para o fortalecimento da economia e da democracia no continente.

Priscila Lapa, Cientista Política; Sandro Prado, Economista

 

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