Um pouco do velho mundo
De volta ao Brasil, os ventos da velha Europa continuam soprando em minhas entranhas, até que a vida por aqui recomeçe, felizmente, ao lado dos amigos e da família.
Acabo de visitar algumas cidades da França, Suíça, Itália e Portugal. Paris continua sendo a essência e a magnitude da história universal, mormente no que tange aos alicerces que plantou e que transformou o mundo com os seus fervores emanados da Revolução Francesa (1789), quando a queda da Bastilha exaltou a igualdade de todos perante a lei, a liberdade como sinônimo de vida e o alvitre da fraternidade que deve imperar sobre todos, indistintamente.
O museu do Louvre, o Arco do Triunfo e os encantos incomensuráveis da Champs Élysées, efetivamente traduzem as belezas naturais que o tempo preserva e garante o fomento da virtude e da luta cotidiana do seu povo, que permanece altivo e em defesa dos caprichos da perseverança e da rigidez que predominam em cada esquina das suas históricas ruas e avenidas. Um passeio, de barco, pelo Rio Sena, à noite, sobre as luzes da Torre Eiffel, relembra o espírito de irmandade entre os franceses e os norte-americanos, que permutaram a Torre pela Estátua da Liberdade, como sinônimo de amizade e de fraternidade.
Em Milão, Itália, com as suas ruas repletas de turistas e de muita badalação em torno da moda, que continua sendo a sua marca maior, a rivalidade entre o Internacional e o Milão é uma constância nas conversas travadas nos cafés, restaurantes e bares, sem contar que as suas ruas antigas parecem que foram inauguradas recentemente, tamanho são os cuidados observados com a manutenção das suas ruas e avenidas, tanto pelos veículos que nela trafegam, como pelo contingente de transeuntes que circulam pelas suas largas avenidas, seja por parte dos moradores da terra, seja pelos turistas que estão sempre enchendo as ruas da cidade milenar. A sua monumental Catedral, ainda em construção, é um misto de beleza arquitetônica e de espírito de religiosidade que permeiam em seus redores, oferecendo acalantos mil aos que assistem de perto ou de longe, aquele espetáculo que o homem e a natureza criaram em exaltação ao seu apogeu e à sua grandiosidade.
Berna, a capital da Suíça, é uma relíquia recriada pós Segunda Guerra Mundial, onde o alemão, francês e o italiano são as línguas costumeiramente faladas pelo seu povo e pelos turistas que se arriscam em decifrar os arranjos inevitáveis do seu linguajar destemido e próprio de uma das cidades mais belas do mundo. Sua parte velha, não destruída pelas Guerras, traduz um sentimento de longevidade e de calçadas livres para a circulação humana, sem a presença de veículos ou de outro tipo de condução. Sua moeda forte, o franco-suíço, é por demais valorizado e obriga o turista a ficar atento à suas nuances financeiras. Porém, vale a pena conhecer e desfrutar dos seus cafés e restaurantes, embora a visita à Berna Antiga seja obrigatória e encantadora.
Nos cinco dias em Portugal, meu velho conhecido, desfrutei dos prazeres de rever a sua tradicional Faculdade de Direito, dando um espaço maior à sua biblioteca, onde os maiores autores do mundo fazem parte do seu fantástico acervo, que muitas vezes me serviu de abrigo nos anos de mestrado e do doutoramento. As obras dos brasileiros Pinto Ferreira, Nelson Hungria e Gilmar Mandes, e dos portugueses Figueiredo Dias, Canotilho, Maria João Antunes e Anabela Rodrigues são as mais consultadas, segundo o livro de registro.
Fui, como era de esperar, novamente, à Baixa do Chiado, onde senti os pingos do suor do poeta Fernando Pessoa, que orgulha os lisboetas, cuja estátua monumental fica inerte ao lado da cafeteria Brasileira, onde o português-brasileiro é a língua mais utilizada e frequente. Passear pela Avenida da Liberdade e circular sobre a praça Marquês de Pombal, é uma visita obrigatória para todos que vivenciam a "Lisboa de Agora e de Outras Eras".
Os monumentos históricos e bem conservados de Évora, capital do Alentejo, a 100 quilômetros de Lisboa, revivem os momentos da Roma-Antiga, cujas estátuas dos seus grandes mártires são apreciadas por milhares de turistas que surgem de todas as partes do mundo. Em Évora, como de resto em todo Portugal, o bacalhau e a garoupa são partes integrantes no cardápio dos portugueses e dos brasileiros que lá chegam, ao lado de um bom vinho do próprio Alentejo ou da região do Douro, com especial atenção aos tintos da cartuxa, chaminé, esteva e papa figos.
De volta ao Brasil, os ventos da velha Europa continuam soprando em minhas entranhas, até que a vida por aqui recomeçe, felizmente, ao lado dos amigos e da família.
Adeildo Nunes, juiz de Direito Aposentado, Professor, Doutor e Mestre em Direito, Advogado Criminalista, Membro da Academia Brasileira de Ciências Criminais - ABCCRIM