OPINIÃO

A arte da inovação

O futuro da inovação é, mais do que nunca promissor, pois as sociedades enfrentam desafios complexos que demandam soluções inovadoras, que precisam ser lideradas por empreendedores inovadores

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EDUARDO CARVALHO

Publicado em 27/10/2023 às 0:00 | Atualizado em 27/10/2023 às 6:32
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As inovações têm transformado o mundo desde sempre. Têm sido um dos principais motores de progresso na sociedade, impulsionando a evolução da comunicação, medicina, transporte, energia, economia, agricultura, arquitetura, educação, linguística, cultura, artes, engenharia, etc. É um fator crucial para melhorar a competividade empresarial e das nações. Pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, através de novos tratamentos médicos, tecnologias em sistemas de saúde e solucionar problemas sociais. É impulsionada pelo desejo humano de fazer melhor e progredir.

A palavra "Inovação" tem sua origem no latim "innovatio; innovationis" (derivado do verbo "inovare"), que significa renovação, mudança, ou seja, a ação de introduzir novidades ou mudanças em algo. No mundo real, inovação é a implantação bem sucedida das ideias criativas. É criar diferenciais que surpreendam as pessoas, a concorrência. É um ativo valioso da organização, é a sua inteligência. Fundamental para a competitividade da organização.

David Kelley, fundador da IDEO (Organização especializada em Design Thinking para projetos inovadores), conclui que a criatividade e a inovação são as forças motrizes que diferenciam negócios. São qualidades indispensáveis aos líderes e empreendedores, que facilitam o ambiente criativo, resultando em inovações. Produz um ecossistema vibrante. É uma expressão da cultura organizacional, vinculada aos valores, propósito e missão dela. Está conectada intimamente ao modo como a liderança trata os funcionários e fornecedores. É habilitada pelo pluralismo, competência e conjunto de experiências da liderança.

Para as organizações que querem se perenizar, é preciso uma visão estratégica e gestão competente de inovação, uma abordagem holística que considere as dimensões dos processos, das pessoas, das tecnologias, do mercado e da construção de parcerias. Assim, forma-se uma cadeia de valores com grande capacidade de adaptação, disposta a quebrar paradigmas, a pensar diferente.

Para o empreendedor, inovação é o seu combustível. É o meio através do qual explora oportunidade para negócios ou serviços únicos num mercado. Empreendedores vivem em busca de fontes de inovação. As corporações e franquias crescem através dessa inteligência, que inclusive é alimentada pelas filiais ou unidades franqueadas mundo afora.

Aprendizados sobre os sucessos, fracassos e melhores práticas de outras organizações, que podem ser, inclusive, de outros segmentos econômicos, são experiências vivenciadas continuamente por executivos e empreendedores inovadores. Praticam benchmarking. Há várias técnicas para o seu exercício. Um líder orientado por essa abordagem, pesquisa o que há de melhor no mundo, com sua referência visionária, o que pretende implantar ou aperfeiçoar e vai em busca do aprendizado necessário.

Aprender sobre casos de inovações é inspirador. Pode ser em visita a museus de artes, ciências, tecnologia, história e também, em universidades e leituras. Larry Keeley, autor do livro "Ten types of Innovation" reuniu quase 2 mil exemplos das melhores inovações. Analisou-os usando técnicas de reconhecimento padrão e gerenciamento de complexidade para criar um modelo que pode ser usado de tanto por um executivo-chefe quanto por um estagiário, de qualquer setor e de qualquer empresa, grande ou pequena. O modelo fornece uma maneira de entender as complexidades dos negócios. Contribui para a análise crítica das variáveis que influenciam a inovação de empreendimentos na fase de sua criação e operacionalmente. Elas podem ser consideradas individualmente ou combinadas: localização, estratégia, estrutura, governança, gestão de pessoas, processo, tecnologia, modelo de negócio, produto/serviço, precificação, logística, marketing, gestão financeira, canais de venda, venda. Pode ainda ser uma ferramenta de diagnóstico para avaliar como a inovação está sendo abordada internamente. Também pode ajudar a analisar o ambiente competitivo, revelando lacunas e oportunidades potenciais para fazer algo diferente ganhar mercado.

A definição de localizar um empreendimento, por exemplo, é crucial para o seu sucesso ou fracasso. Na Northwestern University, desenvolvi modelo heurístico, orientado por Mark Turquinst, professor de análise de sistemas econômicos. O modelo foi testado com sucesso para localizar unidades industriais que utilizavam insumos minerais ou agrícolas. Também foi essencial para definir a localização de um centro de idiomas em Recife há mais de três décadas.

Na época, as maiores unidades de ensino de Inglês eram localizadas no bairro da Boa Vista ou em Boa Viagem. Considerando, apenas, as variáveis oferta e demanda dos bairros, estratificada por faixa etárias e renda, concluí que a melhor localização para um centro entrante no mercado, era o bairro dos Aflitos. Essa decisão gerou uma inovação disruptiva, como define o Professor Clayton Christensen da Harvard University, no mercado de idiomas da cidade. O novo centro cresceu exponencialmente e as outras instituições concorrentes só acordaram para iniciar a implantação de filiais no bairro, três anos depois. Deram tempo para o novo centro implantar inovações com combinação de variáveis, tornando-se líder no mercado, capitalizando-se para novas inovações disruptivas.

O futuro da inovação é, mais do que nunca promissor, pois as sociedades enfrentam desafios complexos que demandam soluções inovadoras, que precisam ser lideradas por empreendedores inovadores. Contudo, esses líderes precisam estar alinhados aos princípios éticos, sociais e sustentável, buscando o bem comum e o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa e justa.

 Eduardo Carvalho, Harvard University Fellow

 

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