Israel, Palestina: uma reflexão histórica
A existência do Estado de Israel, há 75 anos, é a concretização dos ideais de autodeterminação nacional do povo judeu em sua terra ancestral

O movimento migratório judaico à Palestina, desde o final do século XIX, foi construindo as condições necessárias para a obtenção desse objetivo. Parte ponderável do Oriente Médio estava há séculos sob domínio do Império Otomano e após a Primeira Guerra Mundial passou para controle inglês e francês. Particularmente, a Palestina sob mandato britânico.
A dificuldade de aceitação das lideranças árabes da Palestina e do entorno, ao direito judaico de autodeterminação, gerou o início de um processo de violência que atingiu a população judaica da região.
O poder mandatário britânico, se num primeiro momento revelou simpatia e apoio a criação de um lar nacional judaico, mudou totalmente de postura, por interesses geopolíticos. Diante da ascensão do nazismo e da eclosão da segunda guerra mundial, tornou-se mais receptivo às demandas árabes e tornou-se um entrave ao movimento nacional judaico. Num momento particularmente sensível, em que milhões de judeus eram exterminados na Europa.
Ao final da guerra, sob o impacto do Holocausto e na constatação de que havia dois nacionalismos reivindicando um mesmo território, a ONU deliberou pela partilha da Palestina com a subsequente criação de dois estados, um árabe e outro judeu.
As lideranças judaicas da Palestina aceitaram esta decisão. As lideranças árabes e os países árabes vizinhos a rejeitaram. Se essa deliberação tivesse sido aceita por ambas as partes poderíamos estar celebrando décadas da existência dos dois estados.
Em 14 de maio de 1948, após a saída das forças britânicas, foi declarada a criação do Estado de Israel. Imediatamente a pátria judaica foi atacada pelo exército de seis países árabes, com a declaração explícita de que o objetivo era extinguir esse país em seu nascedouro.
Surpreendentemente, Israel resistiu e venceu a guerra. Isto impediu que se concretizasse um novo massacre do povo judeu, poucos anos após o fim do genocídio nazista.
Esses fatos provocaram o surgimento dos refugiados árabes da Palestina e dos refugiados judeus dos países árabes.
Enquanto Israel absorveu grande parte desses refugiados judeus, os países árabes optaram por não absorver os refugiados da Palestina. Preferiram utilizá-los como arma política, tentando inviabilizar a existência do Estado de Israel.
Essa é a gênese do conflito. Nesses 75 anos há muita história para contar, o que farei num próximo artigo.
No atual momento, cabe uma importante reflexão. Os dois movimentos nacionais são legítimos. A solução do conflito passa pela mútua aceitação e a criação de um estado palestino que se constitua ao lado de Israel.
O Hamas é um grupo terrorista, fundamentalista, que tomou o poder na Faixa de Gaza e que usa esse território para atacar Israel. Não visa a criação de um estado palestino ao lado de Israel, e sim a destruição do estado judeu, o extermínio de seus habitantes e a instalação de um regime teocrático. Sua recente ação não deixa dúvidas do que pretendem e do que são capazes para atingir seus objetivos.
Esse grupo tem como método de ação a matança de civis israelenses e à exposição dos civis palestinos, transformados em vítimas úteis aos seus cruéis propósitos.
Qualquer iniciativa séria, efetivamente comprometida com a paz na região e com a obtenção de justiça para ambos os povos, passa pela eliminação deste grupo terrorista.
É fundamental a constituição de uma liderança palestina responsável, que reveja conceitos arraigados, que em muitos momentos históricos impediram o avanço das negociações. E que sinalizem para a sociedade israelense que efetivamente está preparada para chegar a um acordo realista, que afinal possa trazer a tão esperada paz para a região.
Jáder Tachlitsky, economista, professor de História e Cultura Judaica e coordenador de comunicação da Federal Israelita de Pernambuco