OPINIÃO

Otimista ou pessimista?

O que distingue nossa era é a compreensão das origens da riqueza e desigualdade global que permita lutar e vislumbrar um futuro mais generoso como parte da jornada humana por territórios desconhecidos

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GUSTAVO KRAUSE

Publicado em 29/10/2023 às 0:00 | Atualizado em 29/10/2023 às 7:07
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Qualquer autodefinição sofre de um pecado original: a suspeição de quem responde. É natural que as pessoas tenham uma percepção menos negativa dos seus defeitos e mais positiva de suas eventuais qualidades.

Há uma resposta cômoda e que aplaca a exigência dos extremos, antecipando o que vai dar certo ou redondamente errado: "sou um realista". O mais apropriado é não ceder às dificuldades e aproveitar as oportunidades; compreender que o intelecto é pessimista, a vontade, otimista; e não cometer idiossincrasias como a de Thomas Carlyle que define a economia como uma "ciência lúgubre".

A economia é o pão ou a fome nossa de cada dia: seja na padaria da esquina, seja numa Big Tech, numa potência nuclear. A economia é a ciência da escolha. E as decisões têm consequências que podem nos levar à fortuna ou à falência.

O grau de sofisticação da ciência econômica contemporânea não assegura necessariamente acertos nem modelos infalíveis. Os protagonistas da complexa relação econômica se deparam com duas realidades incontornáveis: os economistas não são profetas e a economia é uma relação que envolve a complexidade do ser humano.

A essa altura, cabe o leitor indagar onde quer chegar o articulista? A uma breve reflexão sobre dois livros recentemente lançados com duas conclusões opostas em relação ao futuro da Humanidade.

O primeiro é de autoria de Oded Galor (1953), israelense-americano, professor de economia na Brown University, autor do livro A Jornada da Humanidade - As origens da riqueza e da desigualdade, e fundador da "teoria do crescimento unificado".

No longo percurso da obra, o autor registra, "Curiosamente, a disparada da sociedade nos últimos séculos aconteceu apenas em algumas partes do mundo, desencadeando uma segunda transformação particular a nossa espécie: o surgimento de imensa desigualdade entre as sociedades [...] Decifrar o Mistério do Crescimento nos permitirá enfrentar na segunda parte da nossa jornada o Mistério da Desigualdade entre as nações e o significativo aumento do desnível entre as padrões de vida nos últimos duzentos anos".

Na sequência, o autor adverte que o livro não postula uma marcha inevitável em direção à utopia ou à distopia e enfatiza que a "era moderna é movida por uma era de contínua melhoria", persistindo, no entanto, "as enormes injustiças e desigualdades".

O que distingue nossa era é a compreensão das origens da riqueza e desigualdade global que permita lutar e vislumbrar um futuro mais generoso como parte da jornada humana por territórios desconhecidos.

O autor do segundo livro Mega-Ameaças - Dez perigosas tendências que ameaçam nosso futuro e como sobreviver a elas é o renomado economista americano Nouriel Roubini (1958), nascido na Turquia e de origem judaico-iraniana da Stem School of Business da Universidade de Nova York, ganhou fama ao prever a crise financeira de 2008 e foi apelidado de "Dr. Doom" o equivalente ao "Dr. Catástrofe".

As ameaças, exploradas em cada capítulo, estão prestes a nos atingir. São elas (não necessariamente guerras, diz o autor) que se sobrepõem e se reforçam: A mãe de todas as crises de dívida; Fracassos públicos e privados; A armadilha do dinheiro fácil e o fim do boom; A grande estagflação que está chegando; Colapso da moeda e instabilidade financeira; O fim da globalização; A ameaça da inteligência artificial; A nova guerra fria; Um planeta inabitável (mudanças climáticas).

Roubini não se considera um catastrofista. Em cada capítulo admite a possibilidade de um caminho melhor mesmo descrendo nos sistemas autoritários e democráticos.

Curiosamente, na entrevista dada nas páginas amarelas (Revista Veja, Edição de 15 de setembro), Roubini fez uma inesperada afirmação "O Brasil é promissor" e explicou "tem capacidade para crescer a taxas superiores 5% o que seria crucial para combater a desigualdade e aumentar a produtividade, mas a implementação de reformas independentemente da orientação política do governo precisa ocorrer de forma ágil e eficaz [...] O foco em educação é igualmente vital, pois o capital humano representa a chave para o crescimento sustentável. O Brasil possui grande potencial, mas apenas a implementação de tais reformas garantirá um futuro próspero".

Diante das ameaças e um país promissor, Roubini poderia encontrar uma autodefinição mais adequada caso seguisse o sábio conceito de Ariano Suassuna: "Se otimista são tolos, já pessimistas não deixam de ser chatos. Bom mesmo é ser realista esperançoso"

Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco 

 

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