OPINIÃO

Por aqui, não passa!

O recado deve ser claro: por aqui, os trens de Transnordestina Logística S/A só passam depois que a ferrovia Transnordestina chegar também a Suape.

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Sérgio Buarque

Publicado em 03/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 03/11/2023 às 7:21
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A governadora Raquel Lyra deveria bater na mesa (no sentido figurado, claro) e, de forma contundente, afirmar que os trens da ferrovia Transnordestina Logística S/A do senhor Benjamin Steinbruch não passarão pelos trilhos de Pernambuco enquanto não for concluído o trecho que leva de Salgueiro a Suape. Como estava definido no projeto original, a Ferrovia Transnordestina saia de Eliseu Martins, no Piauí, corria até Salgueiro e, daí, abria dois trechos complementares: para Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. Ocorre que o senhor Steinbruch, concessionário da Malha Ferroviária do Nordeste - que desmontou o sistema ferroviário na Região - não tem nenhum interesse na complementação do trecho que leva a Suape. Na verdade, ele é contra, simplesmente porque é dono de um terminal em Pecém, para onde pretende desviar toda a carga do agronegócio e dos minérios do Cerrado.

A concessão da Malha Ferroviária do Nordeste foi o maior fracasso de privatização (concessão) da história do Brasil porque, ao contrário de ampliar investimentos para recuperar, melhorar e ampliar a rede, a empresa concessionária desmontou o que já existia, reduzindo a irrisórios 26% da malha original. Mesmo assim, a concessionária não sofreu nenhuma punição, quando existiam motivos para a suspensão da concessão. Mas, esta é outra história. No caso concreto da Transnordestina, a empresa Transnordestina Logística S/A celebrou um aditivo com a ANTT-Agência Nacional de Transporte Terrestres oficializando a desistência do investimento no trecho da ferrovia que leva de Salgueiro a Suape. Para completar as obras da Transnordestina Logística S/A até Pecém, na semana passada, a SUDENE liberou mais 800 milhões de reais, o que permitirá acelerar as obras de interesse do senhor Steinbruch e enterrar o trecho Salgueiro-Suape.

Diante disto, a Bemisa, que negociava o investimento na Estrada de Ferro do Sertão, que ligaria Curral Novo do Piauí ao Porto de Suape para escoar a sua produção mineral do Piauí, desistiu do projeto e aceitou a oferta de Steinbruch para utilização dos terminais de Pecém para exportação dos seus minérios. Assim, acabam as possibilidades de atração de um investimento privado com interesse direto na ferrovia que leva até Suape. O Sertão de Pernambuco sendo, então, apenas um lugar de passagem dos trilhos e dos trens que vão transportar os grãos e os minérios do Cerrado para o porto do Ceará.

Para consolar Pernambuco e sinalizar para a governadora Raquel Lira, o governo federal incluiu o ramal Salgueiro-Suape no PAC-Programa de Aceleração do Crescimento, contemplando 450 milhões de reais, como uma promessa de duvidosa execução e prazos imprecisos, para um investimento total de quatro bilhões de reais. A história de atrasos e obras paradas dos PACs de governos anteriores não nos permite ser otimista em relação à efetividade da adoção do projeto Salgueiro-Suape pelo governo federal. Se não houver uma mobilização da sociedade pernambucana, os investimentos privados para Pecém se aceleram e Pernambuco fica esperando boa vontade e capacidade de investimento da União no meio de uma dura disputa de interesses na distribuição dos escassos recursos públicos

Se a governadora não adotar medidas que demonstrem a disposição de impedir a passagem dos trens da Transnordestina Logística S/A pelas terras pernambucanas (quando a obra estiver concluída), o nosso líder Francisco Cunha vai mobilizar uma marcha para o Sertão com milhares de pernambucanos. Deitando-se sobre os trilhos e abraçados com a bandeira de Pernambuco, os pernambucanos vão deter a movimentação de carga pelo território do Estado para escoamento até Pecém. Ou então, se houver riscos dos trens passarem por cima dos pernambucanos, avançamos com alguns tratores para destruir os trilhos que correm, indevidamente, sobre o território pernambucano. O recado deve ser claro: por aqui, os trens de Transnordestina Logística S/A só passam depois que a ferrovia Transnordestina chegar também a Suape.

Sérgio Buarque, economista

 

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