OPINIÃO

Inovação disruptiva

Muitas transformações disruptivas requerem pesquisas científicas. São realizadas por universidades, organizações públicas e privadas com fins ou sem fins de lucro. Exigem investimento significativo e muitas vezes o retorno só acontece no longo prazo

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EDUARDO CARVALHO

Publicado em 03/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 03/11/2023 às 7:21
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Disruptivo refere-se a uma mudança significativa em um sistema, processo, organização, mercado ou status quo estabelecidos. A disrupção pode ocorrer em diversos contextos, como economia, sociedade, negócios, tecnologia, indústrias, serviços, e até na vida cotidiana. Pode ser positiva ou negativa. A disrupção positiva é virtuosa. A negativa pode causar desordem ou danos a sistemas, organizações, mercados, nações.

O termo "disrupção" no contexto de inovação foi criado pelo professor da Harvard University, Clayton Christensen em seu livro "The Innovator's Dilemma" (O Dilema do Inovador). Ele conceituou inovação disruptiva como um produto ou serviço que cria um novo mercado, desestabiliza os concorrentes que antes o lideravam, melhora a experiência do cliente, desafia modelos de negócios tradicionais, estratégias de comunicação, gera novo valor a produto ou serviço existente. Pode substituir produtos, serviços e negócios estabelecidos. O conceito tem sido amplamente discutido e debatido nos meios empresariais, criando-se um alerta. As empresas estabelecidas podem superar a disrupção se tiverem visão das ameaças disruptivas, adaptando-se previamente ao cenário em mudança e liderando a adoção de inovações disruptivas. Para isso precisam líderes e empreendedores inovadores.

O inovador tem inteligência criativa. É empático, resiliente, pensa estratégica e sistemicamente. Também tem coragem para correr riscos, além de capacidade para identificar, formular e solucionar problemas. A sua mentalidade, segundo Carol Dweck, professora da Stanford University, é de crescimento. Acredita que habilidades, inteligências e competências são desenvolvidas com esforço, prática e foco em objetivos almejados.

Jeffrey Dyer, Hal Gregersen e Clay Christensen, autores do livro The Innovator's DNA (O DNA do Inovador), concluem que qualquer um pode se tornar inovador disruptivo. Precisa dominar as habilidades de descoberta que distinguem empreendedores e executivos inovadores de gerentes ou empresários básicos. Eles identificaram cinco capacidades nos melhores inovadores: (1) Associação: capacidade de estabelecer conexões entre perguntas, problemas ou ideias de campos não relacionados. Associar é como um músculo mental que pode ficar mais forte usando as outras habilidades de descoberta. Quanto mais frequentemente entendem, categorizam e armazenam novos conhecimentos, mais facilmente seus cérebros podem recombinar associações. É fundamental para o DNA do inovador; (2) Questionamento: faz perguntas provocativas, que desafiam o senso comum, ou como diz o presidente do Tata Group, Ratan Tata, "questionam o inquestionável". A maioria dos gerentes focam em entender como melhorar os processos existentes. Os inovadores perguntam: "Por quê", "Por que não", "E se"; (3) Observação: Estuda o comportamento de clientes, fornecedores e concorrentes para identificar novas formas de fazer as coisas. Age como antropólogo e cientista social. Identifica sutilezas nos relacionamentos que geram insights; (4) Experimentação: constrói experiências interativas e provoca respostas não convencionais para ver que ideias surgem. O mundo é o seu laboratório; (5) Networking: conhece pessoas com ideias e perspectivas diferentes. Visitam outras cidades no país onde residem e em outros, com objetivo de aprendizagem. Praticam benchmarking continuamente.

À medida que os inovadores dominam as habilidades de descoberta, ficam cada vez mais confiantes em suas habilidades criativas. As empresas mais inovadoras do mundo prosperam capitalizando-se nessas habilidades dos seus fundadores, executivos e funcionários.

Como exemplos de empresas inovadoras disruptivas globais, podemos citar: Microsoft, Apple, Netflix, Uber, Spotify, Google, Facebook, Youtube, Instagram, Amazon, Tesla, Airbnb, Zoom, Ifood. Essas empresas transformaram os setores de transporte, manufatura, comunicação, marketing, educação, ciências, cultura, entretenimento, público, hospedagem, turismo, fotografia, cinema, editorial, financeiro, eventos profissionais, alimentação. Há também tecnologias disruptivas que influenciam transformações em diversos setores. Por exemplo: robótica, equipamentos de automação, equipamentos e instrumentos para o setor de saúde, impressora 3D, blockchain e criptomoedas, computadores e componentes, inteligência artificial, computação quântica.

Muitas transformações disruptivas requerem pesquisas científicas. São realizadas por universidades, organizações públicas e privadas com fins ou sem fins de lucro. Exigem investimento significativo e muitas vezes o retorno só acontece no longo prazo. As pesquisas realizadas pelos laureados Nobel, por exemplo, representam avanços científicos ou descobertas que podem contribuir para inovações disruptivas em vários setores, direta ou indiretamente.

O estudo de Christensen sobre inovação disruptiva teve impacto significativo no mundo e o termo "disrupção" tornou-se importante no vocabulário do empreendedor e de inovação. Desde então, a noção de disrupção tem sido aplicada em uma variedade de setores e contextos, onde mudanças significativas impactam as práticas tradicionais e os modelos de negócios estabelecidos. Pode ser praticada por executivos e empreendedores, com DNA inovador, em organizações de qualquer natureza jurídica, porte e localidade. São cases que merecem ser pesquisados para aprender e inspirar novas inovações disruptivas, gerando crescimento sustentável do ecossistema desejado.

Eduardo Carvalho, autor do livro Global changemaker

 

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