OPINIÃO

Leda, a cultura e o seu legado

Você viverá enquanto vivermos e enquanto formos dignos dos seus exemplos e dos seus legados, da sua arte e da sua resiliência, lutando, vindo, vendo e vencendo, eternizando-se à medida que os seus exemplos vão da morte lhe libertando.

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 06/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 06/11/2023 às 8:03
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A cultura sem Leda Alves fica subtraída da sua maior expressão no campo da cultura popular, seja como pessoa dotada de profundo conhecimento, seja como gestora de extremada dedicação à causa e às coisas ligadas aos mestres dos maracatus, caboclinhos, índios, cocos de roda, bois, ursos, burrinhas, pretinhas do congo, e todos os demais brinquedos do folclore e da cultura carnavalesca.

Encantou-se, aos 92 anos, a atriz e escritora Leda Alves, que foi secretária de Cultura do Recife, no período de 2013 e 2020. Formada em Arte Dramática pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fundou, junto com o marido, o teatrólogo Hermilo Borba Filho, o movimento Teatro Popular do Nordeste (TPN).

Leda também foi diretora do Teatro de Santa Isabel, presidente da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), diretora do Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), diretora executiva da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR) e presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

O Recife e Pernambuco estão menores com o vazio que o desenlace de Leda Alves causou às artes e à cultura do nosso Estado.

Foi múltipla nos seus saberes e fazeres, especialmente na sua dedicação diuturna à cultura popular, o seu maior legado. Ela foi, no início de sua vida, exímia atriz, para, na sequência, trilhar uma trajetória intensa, como visto neste artigo, de gestora pública exemplar, exitosa e honrada.

Quando, em primeiro de janeiro de 1989, assumi a Presidência da Fundação de Cultura Cidade do Recife, recebi de Leda a transmissão do cargo, antes com a entrega dos projetos, incluindo o planejamento do carnaval, tudo nos rigorosos parâmetros da ética e da fraterna solidariedade.

Essa postura de Leda foi um elegante gesto em defesa das tradições culturais, deixando-a em espiral crescente de grandeza humana e profissional.

No plano político, deixou a marca indelével de ativista sempre em defesa da democracia, opondo-se permanentemente aos regimes de força, de autoritarismo.

Ela sempre foi muito respeitada e amada. No universo cultural e no seio das entidades que dirigiu, comentava-se ser ela uma gestora rígida, nos excessos com brabezas da sua essência, mas nada que a diminuísse diante dos seus servidores, dos seus liderados. Nessa esteira, cativava a todas e a todos e lograva êxito nas gestões sob a sua égide.

O Recife e Pernambuco perdem um dos seus ícones da cultura, a quem devemos todos os encômios em reconhecimento à sua devoção aos brincantes de tantas apresentações, de tantos carnavais.

O legado de Leda atende ao caleidoscópio das diversas manifestações e leituras artístico-culturais. É também exemplo diante das gestões meritórias, marcadas pelo trabalho e denodados esforços. Assinalado pela seriedade e zelo com os seus comandos à frente das mais relevantes instituições do Recife e de Pernambuco.

Agradecidos, receba Leda Alves a despedida dos que por aqui ficam lutando o bom combate da resistência, defendendo os artistas cênicos e circenses, os poetas e os fazedores das artes e da cultura, das agremiações carnavalescas e folclóricas, dos produtores.

Você viverá enquanto vivermos e enquanto formos dignos dos seus exemplos e dos seus legados, da sua arte e da sua resiliência, lutando, vindo, vendo e vencendo, eternizando-se à medida que os seus exemplos vão da morte lhe libertando.

Adeus, Leda!

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

 

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