OPINIÃO

Escassez de mão de obra para o mercado de TI: solução pode ser olhar para o interior

Educação e empreendedorismo são caminhos que permitem que alcem novos voos

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Romulo Cesar

Publicado em 14/11/2023 às 5:00
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O potencial de crescimento do setor de Tecnologia da Informação no país vem esbarrando na falta de mão de obra especializada. Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom) revelou que, até 2024, serão necessários 70 mil profissionais por ano para ocupar as vagas geradas. Entretanto, por ano, o Brasil capacita apenas 46 mil pessoas para o setor. Acredita-se que, devido a este déficit e à qualidade da formação desses profissionais, a quantidade de vagas ofertadas ainda será superior ao seu preenchimento.

Embora o Recife esteja no topo do ranking das capitais com mais estudantes de tecnologia do País, segundo o Censo de Ensino Superior 2021, do Ministério da Educação, há hoje pelo menos três mil oportunidades de trabalho nesta área em Pernambuco que não são ocupadas, por falta de profissionais qualificados, segundo levantamento do Porto Digital.

A minha experiência de mais de 12 anos de atuação como professor da área de TI que atua em Caruaru, no Agreste, vem demonstrando que, com o avanço na interiorização de cursos técnicos e de graduação na área de tecnologia, um dos desafios que o estudante que mora no interior precisa enfrentar é obter experiência suficiente para concorrer a uma vaga de emprego em sua área de formação. E as barreiras a serem ultrapassadas são numerosas para que isso aconteça.

A maioria mora em locais onde o acesso e a conectividade com a internet ainda são de baixa qualidade. Para estudar, muitos precisam se mudar para cidades onde existem uma melhor estrutura, conciliar as aulas e atividades acadêmicas com um emprego para custear e se manter durante a formação, já que grande parte é de origem humilde. Sem falar do mercado onde as ofertas de vagas ainda se concentram na capital e em outras regiões do país. É muito comum o aluno que consegue chegar ao fim da sua jornada acadêmica precisar optar por se inserir numa atividade cuja vocação local garantirá a sua sobrevivência.

Na deeptech embarcada no Porto Digital onde atuo como head de produto, estamos olhando para o interior do estado para solucionar o nosso problema com a escassez de mão de obra especializada. Desde 2020, com o apagão de mão de obra na área de tecnologia, estruturamos uma estratégia de interiorização das nossas ações de capacitação e captação de talentos. Nossa missão vem sendo levar a oportunidade de o jovem interiorano ter contato com uma vivência em tecnologia, inovação e também atuar a partir de e em sua própria região. Por meio da nossa política de ESG, contamos, atualmente, com iniciativas que estão levando esperança e mudando a vida de jovens que desejam atuar na área de tecnologia e inovação independentemente das barreiras geográficas.

Educação e empreendedorismo são caminhos que permitem que alcem novos voos. Junto com o Programa de Extensão Tecnológica (PET) da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco, órgão de fomento à ciência, tecnologia e inovação, dos quais somos parceiros, já capacitamos mais de 200 estudantes de cidades como Cabrobó, Salgueiro, Cachoeirinha, Serra Talhada e Caruaru. Como bolsistas do PET, recebemos nos dois últimos anos mais de 30 residentes que participaram de reuniões, atuaram em projetos e vivenciaram experiência real de estarem inseridos no mercado e de terem contato iniciativas na área de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Tudo isso remotamente.

Também participamos de diversos eventos de inovação no interior em parceria com as instituições de ensino no Sertão pernambucano, visando incentivar os jovens a enxergarem no empreendedorismo e no desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas locais uma alternativa de gerarem para si mesmo e para outros profissionais a oportunidade de atuarem na sua área de formação.

Acreditamos que, com mais ações focadas e voltadas para o interior como essas, podemos colaborar não só para a formação de mão de obra especializada que o mercado precisa, oferecendo oportunidades de estágio e trabalho para pessoas que moram fora das capitais e regiões metropolitanas. A promoção de ações com esse impacto social tem um enorme potencial de promover a economia local, com a geração de novos negócios na área de tecnologia da informação e geração de oportunidades de emprego em locais com outras vocações econômicas.

Romulo Cesar, Professor da área de Tecnologia da Informação, head de produto da Di2win, deeptech pernambucana especializada em gêmeos digitais e inteligência artificial

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