OPINIÃO

Os limites da inteligência

Dizia Rubem Braga, que sabia das coisas, que o menino que nunca quebrou o braço caindo de um cajueiro jamais será um homem de caráter

Imagem do autor
Cadastrado por

ARTHUR CARVALHO

Publicado em 15/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 16/11/2023 às 14:21
Notícia
X

Fico apenas assuntando, calado, quando um pai orgulhoso elogia os conhecimentos e habilidades dos filhos no campo da tecnologia moderna: "Ele sabe tudo, mexe nesses negócios melhor do que eu". O menino/gênio apontado pelo pai deve ter uns cinco a seis anos, está sentado em sua pequena cadeirinha e nem se move para agradecer os elogios paternos. Não tem tempo a perder...

E ali, mudo, sentado e quieto, passará horas a fio, ligado na telinha da internet, desligado do mundo e da devastação da floresta amazônica, da flora e da fauna, da criminosa poluição dos mares, rios e lagos, da terrível guerra do Oriente. Despeitado com a competente e brilhante atuação infantil, fico pensando se aquela criança atravessará a infância e a mocidade e chegará à idade adulta alienada e sem jamais ouvir falar em Vladimir Maiakovski, Wyndham Lewis e Jaroslav Hosek, em Níkos Kazantzákis, Cruz e Souza e no grande Fagundes Varela.

Dizia Rubem Braga, que sabia das coisas, que o menino que nunca quebrou o braço caindo de um cajueiro jamais será um homem de caráter. Quando eu fugia de casa pra evitar uma pisa bem dada, de cinturão, do Doutor Carlos Koch de Carvalho, ia me esconder e me refugiar na biblioteca particular, de cerca de 30 mil volumes, de meu querido avô, jornalista e poeta Aloysio de Carvalho. E aí eu não mexia em computadores inexistentes e nem em inteligência cientifica. Era mais fácil esbarrar num manuscrito de Castro Alves ou de Rui Barbosa. Ia ler, entre outros autores, Karel Capk, da Tchecoslováquia, que já à época questionava os limites da inteligência humana, celebrando o progresso tecnológico, com a devida cautela, contra o pensamento estreito, a corrupção e a ambição. Sua obra mereceu atenção especial pela crítica à exploração racial e principalmente ao racismo. Esse mesmo e recalcitrante racismo existente nos estádios de futebol da Espanha, Argentina, Paraguay e quase todos os das cidades brasileiras onde o imbrochável ganhou a eleição. Que pena!

Falar nisso, Montaigne era muito bom, mas Euclides da Cunha é melhor. Vamos ler Joaquim Cardoso, Ascenso Ferreira e Mirô, moçada! O popular pernambucano Mirô recentemente falecido sem ter recebido nenhuma homenagem da APL - Academia Pernambucana de Letras. Recomendo entusiasticamente a leitura de A HISTÓRIA ÍNTIMA DE GILBERTO FREYRE, CEPE, do grande ensaísta e antropólogo Mario Helio Gomes.

Arthur Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa - ABI.

 

Tags

Autor