OPINIÃO

A importância da inovação social

. Um futuro mais promissor para as próximas gerações, com o progresso avaliado, não apenas pelo crescimento econômico, mas também pelo desenvolvimento humano, social e ambiental

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EDUARDO CARVALHO

Publicado em 17/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 17/11/2023 às 7:31
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A humanidade enfrenta grandes desafios. A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) preconiza a condução de ações nas áreas de erradicação da pobreza; segurança alimentar; agricultura; saúde; educação; igualdade de gênero; redução das desigualdades e temáticas sociais e ambientais que precisam ser objeto de iniciativas consistentes por parte de governos, empresas e da sociedade civil. A visão é ambiciosa e transformadora, porque prevê a construção de um mundo livre dos problemas atuais — pobreza, miséria, fome, doenças, violência, desigualdades, desemprego, degradação ambiental, esgotamento dos recursos naturais e corrupção.

Guiar a humanidade rumo a uma nova realidade próspera e sustentável, respeitando os limites planetários e garantindo que todas as pessoas tenham dignidade é um enorme desafio. Há um grande abismo entre a escala dos problemas e a das soluções. Elas não podem ocorrer apenas com políticas governamentais. Exigem colaboração de muitos atores. Em vez de projetos pontuais, o foco está na mudança social sustentável e no desenvolvimento de estratégias inovadoras de longo prazo. Não se pode pensar em resolver o aquecimento global, por exemplo, sem considerar o papel das empresas petroquímicas globais, agências governamentais nacionais e supranacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial, e organizações sem fins lucrativos como Greenpeace e Defesa Ambiental.

Cada vez mais, a inovação floresce através de parcerias e com os setores convergindo. Nessas interseções, as trocas de ideias e valores geram novas e melhores abordagens para a criação de valor social. O mundo precisa de mais inovação social - portanto, todos os que aspiram resolver os problemas mais complexos do planeta (empreendedores, líderes, gerentes, ativistas e agentes de mudança, independentemente de serem do mundo dos negócios, do governo ou de organizações sem fins lucrativos) devem abandonar velhos padrões de isolamento, paternalismo e antagonismo, investindo esforcos para compreender, abraçar e alavancar a dinâmica intersetorial na busca por novas maneiras de solucionar os problemas sociais.

A inovação social é impulsionada por propósito, parceria e responsabilidade. É o processo de gerar novas soluções para problemas sociais locais e globais, criando ou melhorando produtos, serviços, modelos de negócios,processos, legislação. É um catalizador de transformação social, abordando problemas sistêmicos, visando mudanças sustentáveis. Por exemplo, empoderar comunidades vulneráveis, capacitando-as para serem protagonistas na resolução de seus desafios; criar soluções que promovam a inclusão de minorias; desenvolver práticas de preservanção ambiental. A inovação social pode ocorrer em muitos lugares: creches, asilos, clínicas médicas, grupos de auto-ajuda, escolas, universidades, cooperativas, judiciário, instituições de microcrédito,comunidades.

As experiências bem sucedidas de inovações sociais orientam que seis estágios levam as ideias do início ao impacto. Nem sempre são sequenciais (algumas inovações saltam diretamente para a 'prática' ou mesmo 'escala') e há loops de feedback entre elas. Os estágios fornecem uma estrutura para pensar sobre os diferentes tipos de apoio que os inovadores e as inovações precisam para florescer: 1) Inspirações e diagnósticos: Compreende identificar todos os fatores que provocam a necessidade de inovação, como crise, cortes de gastos públicos, baixo desempenho. Envolve diagnosticar o problema e suas causas; 2) Propostas e ideias: Geração de ideias; 3) Prototipagem e pilotos: As ideias são testadas na prática, coalizões são formadas, conflitos são resolvidos e medidas de sucesso são acordadas; 4) Sustentação: A ideia se torna prática cotidiana, após seu aperfeiçoamento, com definição de fluxos de receita para garantir a sustentabilidade financeira a longo prazo da organização que viablizará a inovação. No setor público significa identificar orçamentos, equipes e outros recursos, como legislação; 5) Escala e difusão; 6) Mudança sistêmica: É o objetivo final da inovação social. A mudança sistêmica geralmente envolve a interação de muitos elementos: movimentos sociais, modelos de negócios, leis e regulamentos, dados e infraestruturas e maneiras totalmente novas de pensar e fazer. Muitas vezes envolve novas estruturas ou arquiteturas compostas por inovações menores.

Ideias vêm de muitas fontes. São motivadas por pensar diferente, fora da caixa e além das fronteiras. Há várias técnicas para ativá-las : Design thinking, creative problem solving, problem-based learning, benchmarking, think and do tank. Transformar uma boa ideia em algo sustentável depende de plano de negócio inovador. Abrange governança, estratégias e modelo de negócio que gere um fluxo de receita que cubra mais do que custos, no curto e longo prazo. Os propósito, valores e missão são o norte da organização. O capital financeiro é importante para investimento em ativos fixos e gestão operacional. Mas o capital social é essencial. É a cultura de valores que cultiva a reputação da organização. A confiança é fundamento.

A governança pública precisa apoiar a incentivar a inovação social através de políticas, parcerias Público-Privadas e legislação favoráveis. Investidores sociais e filantropos podem desempenhar papel crucial fornecendo recursos financeiros e expertise para o crescimento do empreendimento social. O sistema educacional precisa incluir na sua base curricular, desde a educação infantil, programa de empreendedorismo que desenvolva projetos que busquem solução de problemas sociais.

Enfim, é essencial que todos os atores da sociedade unam-se para potencializar a inovação social como força transformadora que busca soluções criativas e sustentáveis para os desafios do mundo. É a esperança para a construção de um mundo mais justo, equitativo e inclusivo, onde todas as pessoas tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial, contribuindo para o bem-estar coletivo. Um futuro mais promissor para as próximas gerações, com o progresso avaliado, não apenas pelo crescimento econômico, mas também pelo desenvolvimento humano, social e ambiental.

Eduardo Carvalho, autor do livro Global Changemaker

 

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