OPINIÃO

Guardiões do saber

A gama de informações com as quais eles estão acostumados a lidar é enorme. Filtrar o conhecimento é parte dos novos atributos a um oficial de estado-maior. Os velhos chefes deverão aprender a lidar com essa nova realidade

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OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS

Publicado em 25/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 25/11/2023 às 19:38
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A poucos metros da entrada principal da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército existem duas estátuas de bronze, representando sentinelas uniformizadas com trajes do início do século, a lembrar que aquele instituto acadêmico também é uma organização militar.

Há alguns anos, os alunos e os instrutores apelidaram carinhosamente essas duas obras de arte de guardiões do saber.

Apesar da brincadeira, é fato que a tradicional escola da Praia Vermelha defende os mais altos padrões de educação e cultura e estimula pesquisas avançadas na área de segurança e defesa nacionais.

Nessa semana ocorreu a formatura dos alunos nos cursos ministrados por aquela organização militar de ensino.

Foram eles: o Curso de Comando e Estado-Maior para oficiais das armas, quadros e serviços, o Curso de Política e Estratégia e o Curso Internacional de Política e Estratégia, ambos para oficiais no último posto de suas corporações.

Alunos, inclusive estrangeiros, familiares e autoridades civis e militares ouviram as palavras do Comandante do Exército, General Tomás, que exortou os militares a prosseguirem na mesma senda dos valores pregados por Caxias, patrono do Exército, e por Castello Branco, ex-Comandante daquela escola.

O ponto marcante de sua fala foi o momento no qual afirmou que o Exército brasileiro transcende os homens e as mulheres que o constituem, e por isso paira acima das circunstâncias venais do ser humano.

Transcende por cortejar valores históricos que têm na hierarquia a referência e na disciplina a motivação.

Destacou ainda o Comandante do Exército a importância dos conselhos sustentados em experiência de campo e estudos promovidos nas salas de aula que serão defendidos pelos futuros assessores junto aos chefes militares.

O próximo lance nesta partida de profissionais das armas será dos chefes militares que os receberem.

Que esses experientes militares estejam prontos e sejam tão ágeis de raciocínio quanto abertos a novas ideias, pois este grupo é rápido em formular questões desconcertantes, bem como apresentar possíveis respostas fora de padrões.

A gama de informações com as quais eles estão acostumados a lidar é enorme. Filtrar o conhecimento é parte dos novos atributos a um oficial de estado-maior. Os velhos chefes deverão aprender a lidar com essa nova realidade.

Na conclusão, o General Tomás afirmou que o Exército real, aquele que desperta ao som da corneta e recosta-se ao som da corneta, está cada dia mais forte, coeso e imune ao exército virtual imaginado por seus detratores.

Com a transformação do ambiente informacional, a instituição e as lideranças se oxigenam e se fortalecem com as novas ideias. Precisam fugir das convicções não testadas e das certezas inquestionáveis e abrir as portas para conviver transparentemente com a sociedade da qual faz parte.

O produto cognitivo e atitudinal que os oficiais de estado-maior modernos carregam em suas mochilas é repartido em todos os níveis da estrutura da força terrestre, promovendo energia para impulsionar o Exército rumo ao futuro.

Estrutura de Estado, o Exército se vale ainda do cadinho de conhecimentos desses oficiais para requerer junto ao governo as necessidades materiais para cumprimento da missão, para assessorar esses governos sobre temas da defesa nacional e, por fim, para executar, como braço armado da sociedade, a decisão tomada no nível político.

Aos leitores, faço uma confissão. Ao falar do Exército no qual estive como oficial da ativa por quase quarenta e cinco anos me entusiasmo e avanço em detalhes que podem até lhes parecer muito específicos.

Mesmo assim, assumo, em foro íntimo, a missão de relatar essas características castrenses por acreditar que ao nos conhecer, a sociedade terá maior capacidade de avaliar nossas potencialidades e até nossas deficiências.

Pois, se ela concede às Forças Armadas a procuração de agir a seu nome, tem o direito de cobrar-lhes eficiência, tanto quanto prover-lhes com meios para cumprir a missão legal e indelegavel.

Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva

 

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