OPINIÃO

A mesa de Deus

Ler A mesa de Deus é aguçar a fome ao pão divino, aos alimentos da vida e do espírito.

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 27/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 27/11/2023 às 6:23
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Foi com muita alegria que recebi de presente, da professora e acadêmica Margarida Cantarelli, o livro A mesa de Deus: os alimentos da Bíblia, fruto de uma extensa e intensa pesquisa, que durou cerca de dois lustros, da escritora e acadêmica Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti, autora de vários livros, dentre os quais aqueles resultantes de pesquisas ligadas à gastronomia.

A mesa de Deus teve por origem uma conversa com o cardeal dom José Tolentino Mendonça, à época ainda padre, acerca da relevância da comida para o povo de Deus, que resultou num livro notável, um fascínio ao conhecimento dos leitores interessados em identificar os alimentos tratados na Bíblia e as suas interpretações sociológicas e antropológicas, quando da relação da mesa e os seus convivas.

A autora, sempre muito ciosa nas suas pesquisas, leu e releu a Bíblia por diversas vezes, e o fez mediante anotações sobre os principais alimentos citados no Livro Sagrado, além de esmiuçar, após estudos, os principais hábitos alimentares dos hebreus nos variados instantes de sua trajetória.

Os 73 livros que fazem parte do Antigo e do Novo Testamentos da Bíblia abordam diversos temas, retratando as origens do universo, da vida animal e humana, os trajetos, hábitos e culturas do povo hebreu e de outros povos da Antiguidade, as histórias de Jesus Cristo, dos sábios e profetas, reis e tiranos, bem como de enumerar cantos e hinos, versículos, provérbios, poesias, epístolas e orações. No contexto da temática religiosa, são inerentes, por igual, a perspectiva histórica, a antropológica, a geográfica, a cultural e a econômica, dentre outras.

A crítica literária e ecumênica, instigada pela forma como se deu a abordagem da escritora Maria Lectícia, mostrou-se agradavelmente surpreendida ao se encontrar, em A mesa de Deus, uma porta inteiramente nova para se adentrar no Livro Sagrado: as comidas e tudo quanto as cerca.

A autora externou à imprensa o fato de ser inexperiente nos estudos teológicos, inclusive, até então, sequer chegou a ler a Bíblia, decorrendo daí o seu extraordinário desafio e a sua extrema dedicação à pesquisa, lendo, então, por inúmeras vezes, a Bíblia, que resultou no magistral livro aqui analisado, mesmo que de passagem, neste artigo.

Chamou-me atenção o que a autora colocou em destaque, o detalhe de perceber "a mesa como um forte alicerce das sociedades, simbolizando união, comunhão e partilha, sendo uma grande novidade da Bíblia, e é a parte mais bonita do Novo Testamento", comentou a acadêmica Maria Lectícia em depoimento à imprensa, acrescentando o fato de que Jesus enxergou na mesa o ponto de convergência aos encontros entre as pessoas num ambiente de convivência entre pobres e ricos, pecadores e santos, cristãos e descrentes, doentes e sãos, tiranos etc.

Jesus, diz a autora, era glutão, tudo porque Ele compreendeu ser a mesa, não a mesa pela mesa, mas enquanto ponto de encontro.

Conforme assegurou o cardeal dom José Tolentino, no seu prefácio, "a cozinha é, numa casa, um motor da vida espiritual. Quem não descobriu isso não descobriu o significado antropológico da comida e o instrumento de humanização que a mesa representa."

A Bíblia, por obviedade, não traz receitas, mas enumera os diversos alimentos, o carneiro e o peixe, por exemplo, o uso dos temperos, e, sobretudo, o pão como o mais citado, sendo Jesus, como sabemos, o pão da vida.

Uma curiosidade, o pão é o pão ázimo, sem fermento. Os judeus que estiveram no Egito, por 430 anos, descobriram, depois, a fermentação, trazendo ao mundo essa nova cultura do pão, assegura-nos a autora na sua magistral obra.

Ler A mesa de Deus é aguçar a fome ao pão divino, aos alimentos da vida e do espírito.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

 

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