OPINIÃO

O acordo Israel-Hamas e a continuidade das operações militares em Gaza

A situação política termina sendo extremamente complexa e difícil, assim como prever os próximos movimentos. O fato é que o Hamas se configura como um agente de desestabilização e a sua queda do poder precisa estar no horizonte.

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Antonio Henrique Lucena Silva

Publicado em 27/11/2023 às 6:44 | Atualizado em 27/11/2023 às 6:45
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A guerra entre Israel e Hamas se aproxima dos 60 dias com um ponto de inflexão importante. Após dias de intensos bombardeios e, posteriormente, com a invasão terrestre de Gaza, o gabinete que governa o país aceitou fazer um acordo com o Hamas para a troca de reféns por prisioneiros. A troca inclui a libertação de 50 reféns, dos 240 que foram capturados, e 150 palestinos sairiam da prisão. Até sexta (24/11) 24 reféns já haviam sido soltos e 39 prisioneiros palestinos estariam livres. Caso sejam liberados mais reféns, haverá mais tempo em que os combates permanecerão em pausa. Durante esse período, as tropas israelenses permaneceriam no norte de Gaza, porém com a interrupção dos voos dos drones e vigilância aérea, com mais caminhões de ajuda humanitária entrariam em Gaza com combustível, medicamentos e alimentos. Muitas críticas surgiram do porque o trato não ter sido feito antes. Essa situação envolve cálculos estratégicos dos dois lados.

O Hamas está usando os reféns como moeda de troca e é o seu principal ativo nesse conflito. A demora na autorização do acordo se deve em virtude das operações militares terem atingido o sucesso inicial da campanha, retirando o grupo terrorista do poder no norte de Gaza. A infantaria de Israel também conseguiu impor muitas baixas aos militantes, assim como descobriu boa parte da rede de túneis operada pelo Hamas, incluindo a de um local muito controverso: a que estava debaixo do Hospital Al-Shifa. Apesar da pressão internacional para a pausa humanitária, principalmente dos Estados Unidos, esse movimento apenas ocorreu porque os militares de Israel se certificaram que os terroristas não eram mais um problema no norte da região.
A continuidade da liberação de reféns ainda gera bastantes dúvidas. O Hamas proibiu que a Cruz Vermelha tivesse acesso às pessoas porque poderia: 1) Israel poderia descobrir onde a maioria está instalada e realizar uma operação para libertá-los; 2) que não haja a informação de quem, quantos e de que forma morreram, porque isso poderia enfraquecer o seu poder de barganha; 3) pode jogar a opinião pública contra eles. Até o momento, o Hamas ainda continua tendo sucesso em gerar uma derrota midiática contra Tel Aviv, utilizando a sua população como escudo humano.
Apesar do sucesso inicial da campanha militar, a situação política dentro de Israel segue tensa. Em uma recente pesquisa, do jornal Maariv, mostra que, se as eleições fossem hoje, o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu não teria maioria para permanecer no cargo. Além desses aspectos, a mesma pesquisa detectou que Benny Gantz oscilaria para 71 cadeiras (dentre 120 assentos) tornando-o premiê. O levantamento do Maariv afirma que Gantz é o mais adequado para 52% da população, contra 27% de Netanyahu e 21% preferindo outro nome.
O sucesso na liberação de reféns e o êxito das operações militares em Gaza será fundamental para o governo Netanyahu. O Hamas aceitou o acordo, não pela troca de prisioneiros em si, já que muitos não são do alto escalão do grupo. Eles estão interessados no cessar-fogo. Tendo sido golpeado duramente de forma militar, a pausa é uma forma de pressionar Israel mostrando ao mundo imagens de uma Gaza destruída, com corpos soterrados e catástrofe humanitária. No plano interno, o governo de Israel também recebe pressão para que mais reféns sejam libertados. Muitas divergências aconteceram dentro dos partidos que compõem a base, como o Força Judaica de Itamar Ben-Gvir e o próprio Likud. Os chefes do serviço de segurança recomendaram aceitar o acordo, dizendo que não era prejudicial aos objetivos da guerra: derrubar o Hamas de Gaza. A situação política termina sendo extremamente complexa e difícil, assim como prever os próximos movimentos. O fato é que o Hamas se configura como um agente de desestabilização e a sua queda do poder precisa estar no horizonte. Ou correr o risco de repetir tudo isso daqui a 10-15 anos.

Antonio Henrique Lucena Silva,  doutor em Ciência Política pela UFF e professor da UNICAP


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