OPINIÃO

Prefiro Miró a Fernando Pessoa

Vivemos no Nordeste, terra de grandes escritores e poetas. Quem tem Ariano Suassuna, Joaquim Cardoso, Ascenso Ferreira, Pinto do Monteiro e Renato Carneiro Campos, não precisa bajular autores portugueses

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ARTHUR CARVALHO

Publicado em 29/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 29/11/2023 às 16:23
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Miró, poeta negro e marginal, considerado "o performático das ruas", denunciou a violência policial, a violência contra as mulheres e outros males do dia a dia, com poemas de excelente nível estético, uma coisa forte, que brotava das entranhas da alma e do coração, sem baixar ao panfletário. Foi traduzido para o espanhol e o francês, publicou 15 livros, era ídolo da jovem intelectualidade nordestina e de São Paulo. Quando morreu, em 31/06/2022, a CEPE disse que ele era "um dos poetas mais importantes da atualidade". A APL ignorou sua breve e sofrida existência solenemente.

Na sua coluna "Arquivo de Artigos etc.", do dia 28/08/2007, o saudoso cineasta, jornalista, escritor e cronista Arnaldo Jabor anuncia o relançamento da obra de João Cabral de Melo Neto, a quem considerava um dos maiores poetas do mundo pela coleção Alfaguara, da Editora Objetiva. Nessa coluna, Jabor confessa que teve "um grande alívio" quando, em entrevista a ele concedida, João Cabral lhe disse textualmente que Fernando Pessoa fez "imenso mal à literatura". E João Cabral completou: "Aquela coisa derramada, caudalosa, criou uma multidão de POETASTROS que acreditavam na inspiração metafísica." E Jabor desabafa, com humor: "Eu, que rosnava covardemente pelos cantos porque não gostava de Pessoa, finalmente respirei."

Jabor conta também, em uma crônica posterior, que, em reunião íntima e informal, na cobertura de Rubem Braga, em Ipanema, no Rio, João Cabral disse, depois de tomar uma, que "A ruim poesia de Fernando Pessoa é responsável pela péssima que anda por aí...", no que foi delirantemente aplaudido pelos alegres presentes, inclusive por ele, Jabor.

Nunca levei Fernando Pessoa a sério, nem nos tempos em que frequentei os bares do Pelourinho, do Pina e do Recife Antigo. Sempre o achei pastoso, verborrágico e meloso. Prefiro o Capibaribe ao Tejo. Prefiro o nosso poeta e romântico condoreiro à sua poesia vazia: "Auriverde pendão da minha Terra, que a brisa do Brasil beija e balança." "Sua boca era um pássaro escarlate." "Quando o Sol nas matas virgens a fogueira das tardes acendia".

Vivemos no Nordeste, terra de grandes escritores e poetas. Quem tem Ariano Suassuna, Joaquim Cardoso, Ascenso Ferreira, Pinto do Monteiro e Renato Carneiro Campos, não precisa bajular autores portugueses. Austro Costa dizia que o melhor do Além-Mar, foram Luís Vaz de Camões e os restaurantes Dom Pedro e Leite.

Arthur Carvalho , da Associação da Imprensa de Pernambuco = AIP

 

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