Emprego em Pernambuco: um velho problema e muitos desafios
As raízes do pouco dinamismo do mercado de trabalho repousam em várias frentes: demográfica, econômica, educacional. tecnológica e social, impondo desafios para governos, empresários, trabalhadores, e para a educação básica e profissional e a sociedade civil, em geral
Historicamente, mesmo quando a economia avança- e ultimamente está claudicante- o mercado de trabalho de Pernambuco tem apresentado pouco dinamismo manifestado por elevado desemprego (13,2%) e informalidade (49,1% dos ocupados), e baixo rendimento médio (R$ 2.090) segundo os dados do IBGE (PNAD Contínua) para o terceiro trimestre móvel de 2023. Cabe perguntar as razões para tal. Aqui analisamos as possíveis causas, algumas se localizando fora do ambiente estritamente econômico.
Dados recentes do Censo Demográfico de 2022 indicam que a população de Pernambuco cresceu entre 2010 e 2022 à taxa média anual de apenas 0,25% ao ano, praticamente igual à do Nordeste (0,24% a.a.) e inferior à do Brasil (0,5% a.a.). Este baixo crescimento populacional traria uma vantagem porque um lento crescimento do contingente de pessoas em idade ativa (14 a 65 anos) seria um bônus para o mercado de trabalho vez que os empregos ofertados pelo setor produtivo seriam mais facilmente preenchidos. Um menor crescimento das pessoas procurando emprego e uma forte expansão da oferta de postos de trabalho seria o cenário desejado. Essa janela de oportunidade demográfica, tanto em Pernambuco quanto no Brasil, não foi aproveitada.
A oferta de emprego pela economia depende do seu ritmo de expansão, e este, do nível dos investimentos em atividades produtivas e em infraestrutura. De fato, a nossa economia, como a do Brasil, cresceu relativamente pouco na última década. Tivéssemos expandido fortemente o PIB, as taxas de desemprego seriam bem menores do que as observadas historicamente. Uma das causas, portanto, do baixo dinamismo do mercado de trabalho foi o lento crescimento econômico dos últimos dez anos apesar de, até a pandemia, a economia pernambucana ter crescido um pouco acima da média brasileira. O problema é que os desempenhos econômicos, do país e do estado, foram medíocres e instáveis permeados pela recessão nos anos de 2015 a 2016, e 2020; estagnação e lento crescimento nos outros anos, até 2022. Insuficientes investimentos, públicos e privados, conduziram a esta trajetória de baixo crescimento econômico com repercussões adversas sobre a geração de empregos.
No terceiro trimestre de 2023, a taxa de desemprego aberta (pessoas buscando ativamente trabalho como um percentual da força de trabalho) em Pernambuco (13,2%) foi superior à do Nordeste (10,8%) e quase o dobro da brasileira (7,7%). Destaco, todavia que elas vêm caindo desde 2020, ano da pandemia. Essas diferenças, às vezes maiores, às vezes menores, vêm sendo observadas há muitos anos, indicando que há fatores estruturais, além daqueles associados ao desempenho econômico nos curto e médio prazos, que explicariam este descompasso.
A tecnologia é, um deles, sendo um dos determinantes do nível de emprego. A bem-sucedida, mas incompleta, reindustrialização pernambucana trouxe investimentos com alta densidade de capital por trabalhador, gerando relativamente poucos empregos de média e alta qualificação. O desafio, neste caso, é dotar os trabalhadores locais com habilidades e competências para assumir esses poucos postos de trabalho. Nos serviços, o uso crescente da tecnologia digital vem também, aos poucos, mudando o perfil da demanda por trabalhadores. É comum os empresários dos mais diversos ramos de atividade relatarem dificuldades para preencherem os postos de trabalho por problemas de inadequação entre os requisitos exigidos e a preparação profissional dos candidatos. Outros relatam que trabalhadores não desejam ser contratados com carteira assinada pois já recebem benefícios como o bolsa- família e o BCP (Benefício de Prestação Continuada). Tem-se, assim, paradoxos; desemprego e postos de trabalhos não preenchidos de um lado; e empregos formais recusados de outro, o que lança trabalhadores, por opção, na informalidade ou no assalariamento sem carteira, fora da rede de proteção social, pois as empresas, em geral, não querem incorrer no risco da judicialização trabalhista ao contratarem mão de obra com essas caraterísticas.
A assimetria entre disponibilidade de vagas e a desocupação pode decorrer de descompassos entre a procura por trabalhadores qualificados e a sua preparação pelos sistemas de formação profissional, público e privado. Isso sugere mudanças nos currículos de educação profissional. Outro desafio é o baixo desempenho do nosso sistema de ensino básico que ainda apresenta, apesar de alguns avanços, fortes deficiências. Indicadores como a taxa de analfabetismo, desempenho no IDEB, e alta evasão escolar especialmente nas idades de transição entre ensino fundamental e médio (14 anos) e deste com o para o ensino superior (17 anos), evidenciam que há muito por fazer para melhor preparar crianças e jovens para a cidadania e para o mercado de trabalho.
As raízes do pouco dinamismo do mercado de trabalho repousam em várias frentes: demográfica, econômica, educacional. tecnológica e social, impondo desafios para governos, empresários, trabalhadores, e para a educação básica e profissional e a sociedade civil, em geral.
Jorge Jatobá, doutor em Economia, professor titular aposentado da UFPE e Sócio da CEPLAN- Consultoria Econômica e Planejamento