Indefinições
Não sou capaz de traduzir o viver. Seria impossível definir o que há de complexo no mundo. Por essa razão, deixo que a narrativa siga seu curso. Assim, os dias acontecem plenos de indefinições
Os dias passam em um ritmo acelerado. As horas se acumulam como um projeto temporal. Tento vivenciá-las com o máximo prazer. Urge que as premências de cada dia interajam rumo à aglutinação. Afinal, viver é caminhar por épocas indefinidas – hoje, de um jeito; amanhã, de outro. O acúmulo do tempo merece todo respeito, uma vez que enobrece a existência de cada um. Há de se pensar, instante a instante, nos tempos que transcorrem. As indefinições fazem parte dos momentos que se seguem. Opto pelo respeito ao ato de Ser. De algum modo, os elos se compartilham.
Não sou capaz de traduzir o viver. Seria impossível definir o que há de complexo no mundo. Por essa razão, deixo que a narrativa siga seu curso. Assim, os dias acontecem plenos de indefinições. Nada mais enriquecedor que a capacidade de antecipar momentos. Olho por todos os lados e me sinto confusa com tanto desconhecimento. Aliás, preciso da liberdade para encontrar os Eus. E são muitos. A cada dia, crescem em proporções incalculáveis. Os detalhes da rotina me chamam a atenção, mas gosto de adequar os minutos da temporalidade. Somente assim, ganharei esperanças futuras. Necessito adquirir a capacidade de adequação. Ao amanhecer, um sol clarividente; ao entardecer, brumas que não defino; ao anoitecer, o escuro da falta de luz. São tantas as adequações que não vale a pena a busca da precisão. Melhor acatar a sequência de cada uma. E os caminhos se cruzam. Guardo-me em profundidade; então, escuto palavras que não ouso dizer. Importa acompanhar a roleta do relógio. E nada mais. Tantas imprecisões!
Confesso que não sei o que dizer, pois as palavras me faltam. A cada dia, os horizontes se modificam; então, o respeito à temporalidade aumenta. O universo me chama a atenção. Preciso aplaudir as circunstâncias. Afinal, tudo muda a cada instante. Aprecio os vagares porque assim me consolo dos imprevistos arreveses. E o poeta sempre ao meu lado: “tudo vale a pena se a alma não for pequena”. A revisão da existência se acumula em circunstâncias imprevisíveis. Quem sou eu para distinguir o inominável? Viver é difícil, porém tem um lado encantador: a pluralidade do Eu. Estarei exagerando? Creio que não. Como é difícil lidar com a própria existência! Urge entender o impossível. Ir e vir em uma constância absoluta. Os mistérios se acumulam e servem de essência à própria indefinição. Impossível aplaudir o inexistente, mas vale tentar. Longe do preciso, caminho pela indefinida estrada. E, assim, recebo surpresas e mais surpresas. Estou sozinha, com o universo inteiro à volta. As inquietações se multiplicam, não faz mal, saberei lidar com o que não existe. Será? Melhor eximir-me de qualquer resposta.
Entrego-me às circunstâncias da vida e decanto a voracidade do querer.
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras-fquintas84@terra.com.br