Vomitando tripas no mato
A matança indiscriminada de idosos, civis, mulheres e crianças palestinas de Gaza é crime de guerra
Quando presidia a minha querida Associação da Imprensa de Pernambuco - AIP, as perguntas que mais me faziam, e de mais difícil resposta, eram até aonde iam a liberdade de imprensa e de expressão, e a legítima defesa pessoal, da honra, do patrimônio e de terceiros.
Para ver como o tema é complexo, basta dizer que, nos países ditos civilizados, além das respectivas leis de imprensa, eles têm o código de ética e de imprensa. E que o pernambucano Barbosa Lima Sobrinho - sobre quem cometi a temeridade de escrever um ensaio biográfico em 1997 - achava lei de imprensa instrumento jurídico dispensável: quem se achasse ofendido, que evocasse seus direitos usando a Constituição, o Código Penal e o Código Civil. E depois da nefasta lei de imprensa de 1967, que conseguiu desagradar gregos e troianos, o Brasil ficou sem lei de imprensa. E hoje o STF não sabe como julgar os casos complicados que chegam lá, tentando tapar os buracos, o papel do legislativo, useiro e vezeiro em legislar em causa própria, buscando como sempre a velha e auriverde impunidade.
Um bacana está à beira da piscina de sua casa, o assaltante pula seu muro, invade sua casa e mete-lhe bala. O bacana revida com um tiro de revólver, e o bandido morre. Está caracterizada a legítima defesa pessoal. Se o bacana reage com seis tiros e mata o agressor, não é legítima defesa, porque se caracterizou excesso de violência e de defesa. Simples assim.
A matança indiscriminada de idosos, civis, mulheres e crianças palestinas de Gaza é crime de guerra. Não tem a menor justificativa igualar e ultrapassar os atos terroristas do Hamas, cortando o abastecimento de energia e água e bombardeando hospitais. Lula disse uma coisa certa: "Parem de se matar!"
As bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki foram um crime contra a humanidade porque a guerra já havia acabado. Pura sacanagem. Por isso, depois dos bombardeios, o físico americano que participou da fabricação das bombas foi visto aflito vomitando as tripas no mato.
Lembro bem do fim da Segunda Guerra. Os submarinos alemães que torpedearam trinta e seis navios mercantes brasileiros, na costa do Brasli, cometeram crime contra a humanidade, por afundarem embarcações que transportavam passageiros civis.
Arthur Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa - ABI