OPINIÃO

Fogos de artifício: beleza para alguns, pânico para outros. Vale a pena?

Para os animais, os fogos podem causar profundo estresse, prejuízos no sistema auditivo e no comportamento. Em aves, a miopatia de estresse pode acarretar em morte iminente.

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ROMERO ALBUQUERQUE

Publicado em 30/12/2023 às 1:16
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O réveillon está chegando e é comum neste período as pessoas celebrarem suas expectativas para o novo ano com fogos de artifício. No entanto, o que para muita gente é motivo de apreciação, beleza e grandiosidade, para animais, grávidas e pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, o momento de queima de fogos representa bastante sofrimento. No caso de autistas, que costumam ter problemas de processamento sensorial e tendem a lidar mal com eventos imprevisíveis, a experiência se converte em desconforto e até mesmo dor intensa, que pode perdurar por vários dias. Para os animais, os fogos podem causar profundo estresse, prejuízos no sistema auditivo e no comportamento. Em aves, a miopatia de estresse pode acarretar em morte iminente.

O questionamento é: vale a pena? Vale a pena mesmo colocar vidas em risco, causar pânico ou estresse intenso em vários grupos de pessoas, aterrorizar famílias de autistas, tudo para ter um momento de "beleza" no céu? Uma tentativa de amenizar a situação seria a utilização de fogos "não sonoros", embora estudos apontem que na verdade não existam fogos que não emitam nenhum tipo de barulho. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Explosivos no Estado de Minas Gerais (Sindiemg), o termo "fogos de artifício silenciosos", como muitas vezes é utilizado para dizer que podem ser tão ser grandes, brilhantes e coloridos quanto os tradicionais, não incluem as Bombas Aéreas coloridas usadas em shows pirotécnicos como os do Réveillon de Copacabana e nem os fogos com efeito principal de estampido (tiro), a exemplo do famoso Foguete 12×1.

Na verdade, para tentar reduzir o problema, os fogos "silenciosos" seriam shows com uso exclusivo de alguns tipos de artefatos que somente produzem o efeito de um rastro colorido no céu, como se fossem uma "calda de cometa", os quais ainda assim emitem som quando a Pólvora de Projeção que os lançam é acionada, mas com prejuízo bem menor.

Por entender o sofrimento dos grupos sensíveis a fogos, e também para cumprir meu papel de defesa dos animais, cobrei esclarecimentos à Secretaria de Turismo e Lazer da cidade (SETURL) a respeito de como a queima deverá acontecer no Recife, pois entendo ser preciso considerar as pessoas e os animais que sofrem com esse momento e entender o que ele causa. Não podemos beneficiar apenas uma parte da população, e sim ter um olhar atento para todos os que aguardam com ansiedade a chegada do novo ano, sem que tenham sua saúde e segurança prejudicadas.

Como resposta, a pasta enviou ofício garantindo que não haverá fogos sonoros no o Show Pirotécnico do Réveillon 2023/2024 , e que serão utilizados somente os de "efeito visual principal colorido", seguindo todas as medidas de segurança descritas na legislação Federal, Estadual e Municipal, conforme já exigido na licitação para a empresa que vai executar o serviço, a qual deverá executar todos os serviços e instalações de acordo com os projetos, especificações e demais elementos técnicos que integram o Termo de Referência, obedecendo rigorosamente às Normas Técnicas exigidas.

Esta, no entanto, não pode ser uma luta apenas dos órgãos e Organizações Não-Governamentais, mas de toda a sociedade, consciente dos problemas que esta prática causa. É importante se colocar no lugar do outro e buscar compreender por que a situação é tão penosa para eles. Vale a minha felicidade custando a do próximo? Há uma real necessidade de a queima de fogos existir, ou elas ocorrem por mera vaidade?

É importante ter todas as pessoas e instituições engajadas nesse pleito, inclusive as religiosas, banindo o uso de fogos de artifício sonoros de seus eventos. As Paróquias da Arquidiocese de Mariana, por exemplojá proíbiram a realização de queima de fogos e espetáculos pirotécnicos. Isso é um grande avanço na conscientização da população sobre a questão e um exemplo a ser seguido. Unidos poderemos defender o maior princípio da nossa carta magna, a vida.

Romero Albuqueruque, deputado estadual e bacharel em Direito.

 

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