O novo Plano Nacional de Educação: 2024 - 2034
Não podemos esquecer que este novo PNE está sendo gerado em um cenário disruptivo, que vai exigir novas competências dessas pessoas para tais fins, em um ambiente em que as tecnologias estão fortemente influenciando nossa forma de viver e de ser, como é o caso do ChatGPT.
Os últimos onze artigos, publicados nesta coluna do JC, foram dedicados a analisar o Plano Nacional de Educação (PNE) que se expira neste ano de 2024. Analisamos as suas 20 metas e, como vimos, a grande maioria las não foram, ou não serão alcançadas. Isso não pode ser atribuído à pandemia, que naturalmente ampliou as dificuldades inerentes ao processo. Na nossa avaliação isso é o resultado de um conjunto de fatores, tais como ausência de responsabilização entre os entes federativos, falta de maior participação social no acompanhamento de sua execução, ausência de um sistema nacional de educação e de um financiamento adequado às metas estabelecidas, com melhor uso dos recursos públicos. Notadamente, isso joga maior pressão ao próximo PNE 2024 - 2034, que na minha opinião deve trazer uma maior atenção à aprendizagem dos estudantes e à redução das desigualdades.
O novo PNE encontra-se em processo de construção e está fundamentado em 7 eixos, a saber:
•Eixo I - O PNE como articulador do Sistema Nacional de Educação (SNE), sua vinculação aos planos decenais estaduais, distrital e municipais de educação, em prol das ações integradas e intersetoriais, em regime de colaboração interfederativa;
•Eixo II - A garantia do direito de todas as pessoas à educação de qualidade social, com acesso, permanência e conclusão, em todos os níveis, etapas e modalidades, nos diferentes contextos e territórios;
•Eixo III - Educação, Direitos Humanos, Inclusão e Diversidade: equidade e justiça social na garantia do Direito à Educação para todos e combate às diferentes e novas formas de desigualdade, discriminação e violência;
•Eixo IV - Gestão Democrática e educação de qualidade: regulamentação, monitoramento, avaliação, órgãos e mecanismos de controle e participação social nos processos e espaços de decisão;
•Eixo V - Valorização de profissionais da educação: garantia do direito à formação inicial e continuada de qualidade, ao piso salarial e carreira , e às condições para o exercício da profissão e saúde;
•Eixo VI - Financiamento público da educação pública, com controle social e garantia das condições adequadas para a qualidade social da educação, visando à democratização do acesso e da permanência;
•Eixo VII - Educação comprometida com a justiça social, a proteção da biodiversidade, o desenvolvimento socioambiental sustentável para a garantia da vida com qualidade no planeta e o enfrentamento das desigualdades e da pobreza.
No meu entendimento, estes sete eixos precisam estar a serviço de nossos estudantes, enquanto beneficiários maiores da oferta educacional em nosso país. É impensável chegar em 2034 com os números atuais da aprendizagem escolar, em que de cada 100 alunos concluintes do Ensino Médio apenas 5 aprenderam o que seria esperado em matemática. No ensino superior, de cada 100 ingressantes no sistema apenas 41 concluem o curso universitário. Uma ineficiência absurda, com perdas catastróficas de dinheiro público e de recursos humanos para o desenvolvimento do país.
Que estes sete eixos estejam sintonizados com o artigo 205 da Constituição Federal: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Ou seja, precisamos oferecer uma educação integral em tempo integral, em colaboração com a sociedade e com vistas à preparação para o exercício da cidadania e à qualificação para o mundo do trabalho.
Não podemos esquecer que este novo PNE está sendo gerado em um cenário disruptivo, que vai exigir novas competências dessas pessoas para tais fins , em um ambiente em que as tecnologias estão fortemente influenciando nossa forma de viver e de ser, como é o caso do ChatGPT. É preciso que as pessoas que estão liderando este processo olhem para onde aponta o farol, e não se prendam ao retrovisor. Assim, cabe à sociedade estar atenta ao que vai ser construído para o bem de nossas crianças e jovens.
Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.