OPINIÃO

Liderança digna

Agindo com dignidade, o líder cultiva um ambiente de respeito, confiança e cultura de inovação, criando as condições para o sucesso sustentável da organização.

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EDUARDO CARVALHO

Publicado em 09/02/2024 às 0:00 | Atualizado em 10/02/2024 às 6:58
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Dignidade é a qualidade de quem é respeitável, honrado, que procede com decência e honestidade, norteado por princípios éticos e morais. A palavra "dignidade" tem origem no latim. Ela deriva do termo "dignitas", que significa "valor" e do adjetivo "dignus", que significa "digno" ou "merecedor". A dignidade de um indivíduo representa a sua integridade moral. É um valor inegociável. Um cidadão digno não mente, não engana, não é corrupto, não é arrogante, não é vaidoso. Faz a coisa certa, assumindo risco ou custo. Não adota comportamentos errados dos outros para justificar a própria conduta. Não prioriza seus interesses pessoais.

O filósofo Immanuel Kant argumenta que basear os princípios de moralidade em desejos, inclusive felicidade, é um entendimento equivocado do que vem a ser moralidade. O princípio utilitarista da felicidade não traz contribuição para o estabelecimento da moralidade, visto que fazer uma pessoa feliz é muito diferente de tornar uma pessoa boa. Torná-la astuta não é torná-la virtuosa. Fundamentar a moralidade em interesses pessoais destrói a dignidade. O líder digno inspira os seguidores a transcender seus interesses pessoais por propósitos significativos para si, para a organização e para a sociedade.

A formação de um cidadão digno depende fundamentalmente da educação familiar comprometida com esse objetivo, cultivando, no cotidiano, princípios de dignidade: aprender a respeitar; tratar os outros gentilmente; falar a verdade; ser atencioso; respeitar opiniões diferentes. A comunicação construtiva e respeitosa é fundamento da dignidade. Apreciar e não depreciar, incluir e não excluir, integrar e não separar, inspirar e não conspirar, propor e não impor, esclarecer e não omitir. Uma pessoa digna é empática, íntegra, respeitosa, coopera construtivamente, mantendo a consciência elevada.

A dignidade de uma pessoa é avaliada pelas ações, liderança e relacionamentos. É definido pelo o que a pessoa faz e não apenas pelo que fala. Dizia Abraham Lincoln: "Você pode enganar todo mundo durante algum tempo; pode enganar alguém o tempo todo; mas não pode enganar todo mundo o tempo todo". Em suma, cedo ou tarde, o indivíduo que infringe qualquer princípio de dignidade, é capaz de fazer trapaças, formar conluio, causar dolo, praticar ações fraudulentas. Pessoas assim não deveriam liderar uma organização, cidade, país. Uma boa governança deve ser formada com líderes dignos. Os processos de seleção e eleição deveriam estabelecer critérios que orientem a escolha de pessoas dignas ou até mesmo, não permitir que se candidatem.

Liderar é uma responsabilidade nobre. Lidera dignamente quem assume o compromisso de exercer seu papel com os princípios éticos e respeito humano, criando um ambiente que inspire excelência e promovendo o bem-estar coletivo. O líder com esse propósito transforma o 'eu' em 'nós'. Se cerca de pessoas dignas, reconhecendo e valorizando as habilidades, competências, experiências e contribuições individuais de sua equipe, independentemente de cargos e hierarquia. Delega funções adequadamente, comunicando-se de maneira clara e autêntica.Toma decisões com equilíbrio emocional e senso de justiça, inspirando e influenciando positivamente a equipe. Enfim, sabe criar um ambiente propício para desenvolvimento das pessoas e da organização. Desta forma molda a cultura organizacional num terreno fértil para a confiança, colaboração e criatividade.

A empatia é um valor poderoso do líder digno. Compreender as perspectivas, necessidades e aspirações da equipe cria um ambiente onde as pessoas se sentem acolhidas e livres para compartilhar suas dúvidas e preocupações. O líder empático conecta-se genuinamente com quem lidera, fortalecendo a coesão da equipe e estimulando a criatividade de todos e assim, contribui para o sucesso da organização.

O aprendizado contínuo é uma marca registrada da liderança digna. Ao incentivar a aprendizagem e o desenvolvimento profissional das pessoas demonstra seu compromisso com o crescimento coletivo. Também quando investe no desenvolvimento de habilidades e competências da equipe, está contribuindo para o sucesso a curto, médio e longo prazo da organização.

Assumir a responsabilidade pelas decisões, sejam elas positivas ou desafiadoras, é mais um valor essencial que fortalece a integridade do líder. Torna-se também exemplo para a equipe, além de promover uma cultura de responsabilidade e comprometimento.

Agindo com dignidade, o líder cultiva um ambiente de respeito, confiança e cultura de inovação, criando as condições para o sucesso sustentável da organização. Dessa forma constrói um legado que gera sementes. Elas se transformam em árvores, que proverão outras sementes e assim, sucessivamente, cria um ciclo virtuoso para gerações futuras. Esse deve ser o propósito essencial para todos os líderes: Construir e deixar um legado.

Eduardo Carvalho, Harvard Advanced Leadership Fellow

 

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