OPINIÃO

Viva o Nazaré!

As águas do Paraguaçu eram verdes e cristalinas. Sua foz, na Ilha de Itaparica, costumava ser coalhada de botos (golfinhos) e cações (tubarões).

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ARTHUR CARVALHO

Publicado em 21/02/2024 às 0:00 | Atualizado em 21/02/2024 às 15:29
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Viajei, quando menino, em navios brasileiros que faziam a cabotagem pelo nosso litoral. Minha primeira viagem foi no Itapagé, de Salvador pro Rio de Janeiro, em 1942. A segunda, no Araraquara, do Rio voltando pra Bahia, no mesmo ano. Esses vapores foram torpedeados pelo submarino alemão U-507, durante a Segunda Guerra Mundial, em nossas águas. O casco do Itapagé encontra-se ao largo do limite de Sergipe com Alagoas, e é considerado pelos mergulhadores uma das melhores “pescarias” do Brasil. O Araraquara jaz nas águas limítrofes entre Bahia e Sergipe, perto dos restos do Baependi, afundado pelo mesmo submarino nazista.
Em 1951, viajei no transatlântico português Vera Cruz, do Rio para Salvador, em 36 horas, degustando excelente vinho e divinas bacalhoadas, nas ilustres companhias de meu tio, Senador Aloysio de Carvalho Filho, e do Deputado Federal pela Bahia Nestor Duarte, o homem mais culto e inteligente que conheci. Viajei ainda no Rosa da Fonseca e no Ana Nery, em tiro curto. A Companhia Bahiana de Navegação tinha uma frota de 10 pequenos vapores que faziam o Recôncavo Baiano, subindo o Rio Paraguaçu, até as cidades de Cachoeira e São Félix. O paquete José Marcelino, contratorpedeiro reformado, que servira na Grande Guerra, ia até Ilhéus.
As águas do Paraguaçu eram verdes e cristalinas. Sua foz, na Ilha de Itaparica, costumava ser coalhada de botos (golfinhos) e cações (tubarões). Cachoeira é uma cidade histórica de belas igrejas coloniais onde nasceram a heroína Maria Quitéria e Teixeira de Freitas, maior jurista brasileiro de todos os tempos.
Nosso vapor era o veterano e enfadado Nazaré, da Companhia Bahiana de Navegação, que levava o time de futebol da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia pra jogar em São Félix. Na ida para Cachoeira, tudo bem. Na volta, encalhamos no meio do Paraguaçu às 2:00h da madrugada, em plena escuridão, houve um princípio de pânico, depois tudo se acalmou, com as canoas que nos levaram para a pensão Trindade, da mãe do humorista Zé Trindade, em Maragogipe. Nessa pensão, almoçamos a maior moqueca de ostra de nossas vidas, com direito a azeite de dendê e molho de pimenta malagueta. E até hoje agradeço, ao velho e cansado Nazaré, o seu providencial encalhe. A alma o do Nazaré encontrasse sepultados no porto dos Tainheiros. Viva o saudoso Nazaré!

Arthur Carvalho , da Academia Olindense de Letras (AOL)

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