Opinião

As razões do voto para prefeito

Já escrevi por diversas vezes que, na eleição municipal, a lógica é local, não é estadual ou nacional

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ADRIANO OLIVEIRA

Publicado em 02/03/2024 às 17:26
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Existe forte expectativa quanto a nacionalização da vindoura eleição municipal em razão do resultado da última disputa presidencial. Já escrevi por diversas vezes, que na eleição municipal, a lógica é local, não é estadual ou nacional. O que importa é o remédio no posto, o médico no hospital, a rua calçada, a presença da guarda municipal, a pavimentação das avenidas, a construção de áreas de lazer, a coleta do lixo, a organização da cidade. O debate nacional entra fracamente na disputa local.

A Cenário Inteligência, através da pesquisa qualitativa, tem buscado decifrar as razões do voto em diversas cidades brasileiras por meio de dois indicadores: 1) A influência do lulismo e do bolsonarismo na escolha do eleitor; 2) Identificação dos incentivos que motivam a escolha do votante para prefeito. No primeiro indicador, verificamos se um candidato a prefeito sofre rejeição quando associado a Lula ou a Bolsonaro. O que constatamos é que expressiva maioria em variadas cidades afirma que o ex-presidente da República e o atual não influenciam na escolha do prefeito.

Ressalto, contudo, queencontramos pequenas rejeições para candidatos apoiados por Lula ou Bolsonaro. Sendo que o ex-presidente, na maioria dos municípios nordestinos, atrai maior rejeição. Todavia, a rejeição a um candidato advinda de Lula ou Bolsonaro não é suficiente para limitar o seu crescimento eleitoral. Isto significa, então, que prefeitos do PL ou do PT, ou candidatos destes partidos, devem ter como estratégia ótima, a nacionalização da disputa?

Obviamente que não. Prefeitos bem avaliados do PL tendem a ser reeleitos se prestarem contas da sua gestão e falarem sobre o futuro. Ocorrerá o mesmo com os prefeitos do PT. Candidatos do PL e do PT, caso municipalizem a eleição, podem vencer a disputa caso o prefeito,candidato à reeleição, esteja mal avaliado. Portanto, o que as pesquisas qualitativas da Cenário têm mostrado é que a nacionalização não é estratégia ótima (principal) para competidores do PT e do PL.

Contudo, as disputas locais têm as suas particularidades. Por exemplo: Álvaro é candidato a prefeito pelo PL e militou fortemente no bolsonarismo nestes últimos anos. Na cidade em que Álvaro é candidato a prefeito, os eleitores preferem Lula a Bolsonaro e o prefeito tem aprovação razoável e não tem posicionamentos sobre a política nacional. Nesta conjuntura, Álvaro atrairá a rejeição de Bolsonaro e tende a perder a eleição. Ou seja: candidatos muito identificados com o bolsonarismo em cidades com maioria que rejeita Bolsonaro terão muita dificuldade para vencer a eleição.

Antônio é candidato a prefeito e milita há muito tempo no Bolsonarismo. Bolsonaro tem menor rejeição do que o Lula na cidade. O prefeito Carlos tem aprovação razoável. Antônio diz que o prefeito apoiou Lula e posta fotos com o ex-presidente. Carlos opta por mostrar as ações que fez na cidade nos últimos 4 anos. Neste caso, Antônio deve vencer a eleição? É possível que Antônio conquiste eleitores, mas não o suficiente para vencer a eleição, pois a variável que prevalecerá é a avaliação da gestão de Carlos.

Mais uma vez retomo o já dito: é fundamental que a pesquisa qualitativa identifique a influência do bolsonarismo e do lulismo nas variadas cidades. Até o instante, as pesquisas da Cenário mostram que prefeitos bem avaliados tendem a vencer a eleição ou fazer o sucessor. Portanto, na eleição para prefeito, os incentivos principais que conduzem a escolha do eleitor, são locais.

Com o objetivo de trazer mais evidências para a assertiva acima, a Cenário também identificaas razões do voto em dado candidato. É raro, mas aparece,os seguintes motivos para o não-voto: “É do PT, não voto”, “Não gosto das alianças do prefeito (Bolsonaro)”. Contudo, elas são poucas. Já as razões mais comuns para o voto são: “Ele é muito bom prefeito”, “Cumpre as promessas”, “Faz para todos”, “Não discrimina”, “Promete e cumpre”, “Vai seguir com o trabalho do prefeito”. E para o não-voto: “Prometeu e não cumpriu”, “Falta muito”, “Não foi bom”, “Ele precisa ser mais presente”.

Portanto, a estratégia ótima para a eleição municipal é a municipalização da campanha. 2026 só virá forte e intenso nos sentimentos dos eleitores em 2026.

Adriano Oliveira, Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência

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