José de Sousa Alencar. Ou simplesmente Alex (2)
A confusão com a troca de uma letra na coluna e a prisão por dar uma nota sobre possível namoro de um presidente
Quando a TV Jornal do Commercio foi inaugurada Alex foi um dos primeiros convidados para ter programa na emissora, famosa por suas instalações de luxo. Começou com o “Hora do Coquetel”, nos domingos, das 17h às 18h, horário nobre, que estreou uma semana depois da abertura. Apresentava ao lado de Violeta Botelho e depois Thais Notare, recebendo figuras da sociedade, inclusive para cantar. Margarida Cantarelli e José Múcio Monteiro se apresentaram muitas vezes. Estive no programa muitas vezes, para falar das festas das Jovens Mais Elegantes, que eu realiza, ou para contar detalhes do Miss Pernambuco, que eu coordenava e onde ele muita vezes foi jurado. Depois apresentou o “ Sociedade com Alex” e um outro programa que abalava a cidade, o “A verdade em Família” nas noites das quartas-feiras. Convidava quatro casais para entrevista. Primeiro ouvia a opinião das mulheres sobre determinados temas. Depois os maridos, que ficavam numa sala trancados fora do estúdio, para responder as mesmas perguntas. Muitas vezes aconteceram curiosas divergências.
Foi funcionário da Prefeitura do Recife por 30 anos até se aposentar. Por 16 anos comandou o cerimonial, inclusive na organização dos Bailes Municipais, quando coordenava a vinda dos convidados famosos do Rio de Janeiro. Gostava de dirigir e lembro de uma “Rural”, na qual ele me deu caronas depois de festas, quando eu não tinha carro. Só depois de muitos anos, contratou um chofer e me disse que tinha saudade de dirigir. Nunca bebeu e preferia a comida da mãe à dos restaurantes. Menos quando amigos o convidavam para comer na casa deles.
Por muitos anos, mantivemos uma tradição de almoçar nos domingos com Lourdes e Lula Cardoso Ayres, no apartamento do Edifício Saint Exupery, na Avenida Boa Viagem de Clóvis Paiva, mestre da nossa oftalmologia, com cardápios de comer ajoelhado preparados pela sua esposa Conceição. Também fizermos várias viagens juntos, Para eventos pelo Brasil, no exterior, como em Tóquio, Nova York, Lisboa e Paris. Recordo de um fato interessante numa dessas viagens. Fomos a Salvador, convidados para uma conversa com Catherine Deneuve, uma das atrizes mais belas da história do cinema. Entusiasmo com beleza dela, Alex pediu que ela tirasse os óculos escuros que usava. Para decepção dele, ela não atendeu ao pedido, sem se justificar.
Na sua carreira foi protagonista de uma gafe, que não teve culpa, mas que causou um frisson na cidade. Fez uma nota para a coluna do Jornal do Commercio, sobre um desfile de moda patrocinado pela Dias Junior, uma famosa loja de moda e que reuniu toda a sociedade, inclusive a esposa do governador. Pois bem, por um erro de revisão no título “Desfile de Moda”, trocaram o M pelo F, causando, para usar uma palavra de moda, um fuzuê na cidade inteira. O texto original desapareceu, Alex foi chamado pelo senador F Pessoa de Queiroz, que lhe mostrou as centenas de cartas que tinham chegado ao jornal sobre a nota E disse que não podia voltar no tempo, colocou tudo no lixo destacando que Alex não tinha tido qualquer culpa. Nunca o responsável foi descoberto.
Outro assunto comentadíssimo foi quando noticiou um possível namoro do então presidente Humberto Castelo Branco, Ele, que era viúvo, estaria namorando com uma professora da UFPE, solteira e tinha 40 anos. O presidente ia visitar o Recife e perguntou a um coronel se era melhor Alex desmentir a notícia ou deixar como estava. Em vez de perguntar, prendeu Alex e o levou para a 2ª Companhia de Guardas, na Visconde de Suassuna. Ficou apenas dois dias, mas saiu muito abalado. Fui visitá-lo, no dia seguinte, na clínica do médico Geraldo Marques Fernandes, grande amigo dele e pai do ministro Og Marques Fernandes, na Praça Chora Menino. Sai impressionado com seu estado mental, todo enrolado na cama. Chorando disse: “Veja o que fizeram comigo”. Felizmente, logo se recuperou e ao saber do ocorrido, o presidente Castelo Branco, que costumava receber os jornalistas para conversar, quando comandou o IV Exército, telefonou para ele e o convidou para almoço no Clube Português, em outra visita ao Recife, encerrando o assunto. Nunca se soube se a notícia era verdadeira ou, como se diria hoje, uma fak News.
Teve grandes amigos. Lembraria de alguns. Gilberto Freyre, o grande escritor pernambucano, Marcílio Campos, o mais famoso estilista da história da moda pernambucana, Múcio Catão, maquiador das famosas do Recife, com ateliê na Conde da Boa Vista e campeoníssimo dos desfiles de fantasias do Bal Masqué e Baile Municipal, Geralda Farias, esposa do prefeito Antônio Farias, Armênio Dias, com quem almoçava sempre no Leite e o advogado José David Gil Rodrigues. Entre muitos outros.
Alex depois de um AVC, passou alguns dias internado no Hospital Santa Joana, e faleceu no dia 24 de janeiro de 2015, quando tinha 88 anos. Caso estivesse vivo teria feito 97 anos. E ainda está na memória de muita gente que conviveu com sua pessoa, com seu talento, suas colunas, seus livros, seus quadros e suas crônicas no suplemento dominical do Jornal do Commercio.
João Alberto Martins Sobral, jornalista e editor da coluna João Alberto no Social 1