OPINIÃO

Michelle Bolsonaro: se não for apresentada como competitiva, há um erro de marketing

Devido ao seu grande potencial, desconsiderá-la seria um erro estratégico. E ela está apenas começando...

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LAURA ARAÚJO

Publicado em 12/03/2024 às 14:31 | Atualizado em 12/03/2024 às 17:03
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Um dia antes do 8 de março, deparei-me com o texto “Michelie Bolsonaro é competitiva?” do Cientista político Adriano Oliveira e me senti estimulada a pensar na política brasileira e latino americana. O professor levanta a hipótese da competitividade da ex-primeira-dama elencando 3 principais pontos: o significativo índice de desaprovação do governo Lula (46% segundo Genial/Quaest, 27/02/2024), sua popularidade entre o eleitorado evangélico e o fato do Bolsonarismo ser a representação moral da oposição ao Lulismo e ao Petismo. Mas afirma que essa possibilidade pode ser diminuída em uma conjuntura de crescimento econômico.
Minha cabeça foi automaticamente para o país vizinho: Argentina, ao pensar em uma mulher que ocupou o primeiro cargo político após o marido: Cristina Kirchner. Compará-las é, em um primeiro momento, algo desprovido de sentido, ambas são ideologicamente opostas e possuem histórias de vida pública completamente diferentes.
Explico o que as aproximou no meu modo de enxergar: a forte presença dos maridos no início das carreiras políticas e a representação de movimento político específico, o Kirchnerismo e o Bolsonarismo.
A vida política da advogada argentina teve na década de 70 quando ingressou no curso de Direito na Universidade de La Plata onde iniciou sua militância na Juventude Universitária Peronista (JUP), aliada aos ideais da esquerda peronista ela se opôs à radicalização militarista de grupos dentro do peronismo. Conhecera seu falecido marido no curso de Direito e casara-se em 1975 e adotara o nome. Exercendo o primeiro cargo público político na década de 80, como deputada da Província de Santa Cruz, na região onde seu falecido marido Néstor Kirchner avia sido eleito prefeito da cidade de Río Gallegos alguns anos antes. Cristina tem larga história na política: elegeu-se Senadora mais de uma vez, assumiu o cargo de primeira-dama e de Presidente da Argentina após o mandato de Néstor Kirchner. A Argentina tem forte presença na política, primeiramente na Região de Santa Cruz e posteriormente em todo país:, que tem formação e uma trajetória própria na política antes de alcançar a presidência em 2007 com o lema “Direitos humanos, equidade social, distribuição da renda, inserção no mundo, aliança com a América Latina, capitalismo democrático” sendo a primeira mulher presidente na história argentina, a economia argentina teve uma melhora durante seu governo e o país esteve mais próximo de outros países da América Latina. Reelegeu-se em 2011 com mais de 54% dos votos, após a morte do seu marido em 2010, permaneceu na política até 2023 como Vice-Presidente de Alberto Fernandes.
Michelle Bolsonaro, por outro lado, é uma figura recente na política, e, há pouco assumiu seu papel político. Dona de um discurso conservador messiânico e um grande carisma, Michelle apresenta-se na mídia através dos papeis de esposa dedicada, mãe de família e mulher religiosa temente a Deus. Seu papel modificou-se rapidamente ao longo dos últimos 6 anos, passou de esposa jovem, mãe de família e esposa-troféu, arriscaria dizer, para exímia oradora, capaz de inflamar milhares de pessoas com um discurso em ato público. Durante a campanha de 2022, teve a imagem utilizada para “suavizar” a imagem do marido e aproximá-lo do público feminino, o qual ele tina menor popularidade. No último ato na Paulista, dia 25/02, Michele evocou justiça divina, luta de bem contra o mal e se colocou como parte dessa luta, foi aplaudida de por milhares.
Apontei duas mulheres com históricos completamente diferentes, como disse acima, mas o fator que as une é a capacidade de mobilização do capital político de seus maridos em países com ampla abertura para lideranças populistas. Tal fator que foi sabiamente utilizado por Cristina Kirchner, a qual se via e punha como um ser político desde a década de 70, nos tempos de militância. Papel que vem sendo rapidamente aprendido e mobilizado por Michelle Bolsonaro. Então, como resposta a uma das indagações do professor Oliveira: dada à mudança de perfil no comportamento e ao rápido aprendizado da ex-primeira-dama brasileira sobre como proferir discursos inflamados e mobilizar o discurso populista. Considero um cenário no qual a Michelle Bolsonaro herda o espólio político do Bolsonaro bastante factível, ainda em cenário de expansão econômica, uma vez que ela pode reproduzir, inclusive corporificar, o eleitor mediano brasileiro que é: do sexo feminino, cristão e conservador. Devido ao seu grande potencial, desconsiderá-la seria um erro estratégico.  E ela está apenas começando...

Laura Araújo, cientista política  e doutoranda  pela UFPE

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