OPINIÃO

Os precursores

Não haveria Proust, Zolá, Dickens e Henry James, sem Balzac. Victor Hugo, sem Chateaubriand. Antonin Artoud, Aragon, André Breton e T. S. Eliot, sem Gérard de Nerval. Melville sem Hawthorne.

Imagem do autor
Cadastrado por

ARTHUR CARVALHO

Publicado em 20/03/2024 às 0:00 | Atualizado em 20/03/2024 às 16:26
Notícia
X

Eu tinha 15 anos, estava lendo um escritor brasileiro que gostava muito e ainda gosto meu pai passou por mim, viu, parou ao meu lado riu: "Ler é uma das melhores coisas, principalmente autor nordestino, mas fique sabendo, meu filho, que fora dos clássicos não há salvação." Foi em sua estante, pegou um livro de Alexandre Herculano, outro de Camilo Casto Branco, mais um de Eça de Queiroz e me deu: "Escolha um e leia." Passei a vista nos três, escolhi "Os Maias", me entusiasmei com a personagem Maria Eduarda e quando me casei botei o nome de minha primeira filha, Maria Eduarda. E ela ficou sendo, Maria Eduarda Marques de Carvalho, filha que amo.

Com o tempo, fui lendo autores "maiores", tipo Cervantes, Stendhal e Antônio de Castro Alves, os quais releio e admiro. Não posso viver sem esses, mas minha velha paixão mesmo é Dostoiévski e seu livro que gosto mais é Recordação da Casa dos Mortos, sua experiência de quando esteve preso em penitenciária da Sibéria, por dez anos, por motivos políticos, condenado à morte, tendo a pena comutada no dia da execução. Com a contribuição do ensaísta e amigo Thomas Seixas, conheci Baudelaire e mais tarde, Erza Pond, que ele julgava o intelectual mais importante do século XX. No E. P. Ode Pour L'Eléction de son Sepulchre" Erza escreveu a linha autobiográfica citadíssima: Histrue Penélope was Flaubert. "Flaubert foi o mestre do estilo, da palavra, da literatura pela literatura, da arte pela arte," segundo Seixas. Interessante é que esse francês exerce sobre mim um profundo fascínio e respeito. Até hoje, qualquer coisa que escrevo - um simples artigo ou despretensiosa crônica, capricho no estilo em homenagem a ele. Não sinto isso em relação a outros gigantes da cultura anglo-americana-irlandesa como Joyce, Eliot, Yeats e D. H. Laurence, por exemplo. Nem a André Gide e Thomas Mann.

E lendo essas feras, descubro um fenômeno interessante: a influência que um autor exerce sobre outros. Não haveria Proust, Zolá, Dickens e Henry James, sem Balzac. Victor Hugo, sem Chateaubriand. Antonin Artoud, Aragon, André Breton e T. S. Eliot, sem Gérard de Nerval. Melville sem Hawthorne. Não haveria o atual Movimento feminista sem seu precursor americano Nathaniel Wawthorne e a grande romancista francesa George Sand, bissexual e livre-pensadora. Não haveria Virgínia Woolf, Grahan Greene e Nabocov, sem Proust.

Arthur Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa - ABI

 

Tags

Autor