OPINIÃO

Cidades e inclusão: desafios históricos e o futuro

Para além de visões ideológicas distorcidas, o eleitor cidadão deve ser o maior beneficiário de uma nova forma de viver nas cidades.

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PRISCILA LAPA

Publicado em 25/03/2024 às 0:00 | Atualizado em 25/03/2024 às 15:21
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A vida em sociedade, há algum tempo, se tornou urbana. Isso quer dizer que, em detrimento das zonas rurais, as dinâmicas sociais, econômicas e políticas acontecem, prioritariamente nas áreas urbanas, o que implica na construção de espaços mais humanizados, inclusivos, resilientes e prósperos. Um baita desafio, sobretudo quando novas demandas passam a compor as agendas do mundo atual perante questões históricas que ainda não foram superadas.

Estudos do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) apontam que 80% do PIB global vem das cidades, as quais apresentam níveis de produtividade mais altos do que os das áreas rurais. O crescimento delas é expressivo ao longo de décadas e a estimativa é que a população urbana aumente em 2,2 bilhões de pessoas anualmente até 2050. A busca por segurança sanitária, a partir da pandemia da Covid 19, levou contingentes populacionais a procurarem cidades menores ou o campo, mas, ainda assim, a tendência de crescimento urbano se mantém.

Apesar de concentrarem boa parte dos problemas socioeconômicos, as cidades são e tendem a permanecer como uma seara de oportunidades para pessoas que buscam emprego, educação ou refúgio de conflitos. Na publicação "Nova Agenda Urbana", documento da ONU que apresenta os alicerces para o desenvolvimento sustentável, estão propostas as diretrizes para que as pessoas tenham direitos e acesso iguais aos benefícios e oportunidades que as cidades podem oferecer. Olhando a realidade brasileira à luz desta publicação, fica evidente a tarefa dos governos ainda a ser cumprida.

2024 é um ano eleitoral e que tal conseguíssemos pautar o debate para a construção de modelos de cidades capazes de torná-las mais acolhedoras e sustentáveis, centradas nas pessoas? Quando percorremos as diversas regiões do Brasil, observamos o acúmulo de questões que historicamente marcam a nossa sociedade e nos fazem ter indicadores vexatórios. Só para mencionar um aspecto, o déficit habitacional demonstra que as cidades não são feitas para todos os cidadãos. Conforme dados da Fundação João Pinheiro, entre 2016 e 2019, o déficit habitacional no Brasil cresceu de 5.768.482 para 5.964.993 moradias, com destaque para as regiões Norte e Nordeste, com o maior déficit em termos relativos.

Qualidade de vida e preservação do meio ambiente devem ser os pilares centrais para a construção de cidades sustentáveis. Os espaços públicos - ocupados de maneira desordenada, caótica e não planejada - precisam, de forma emergencial, ser repensados. Projetos transformadores carecem de recursos, mas também de visão política, de atuação coletiva e de protagonismo das pessoas para dizer o que desejam e como enxergam as melhorias para todos. Para além de visões ideológicas distorcidas, o eleitor cidadão deve ser o maior beneficiário de uma nova forma de viver nas cidades.

Priscila Lapa, jornalista e doutora em Ciência Política.

 

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