OPINIÃO

Alegria era nas micaretas, que começavam à zero hora do Sábado de Aleluia

Alegria antigamente ficava apenas pela Micareta, nos principals clubes do Recife. Eram festas carnavalescas para assinalar a Aleluia. E que só começavam à meia-noite da sexta-feira santa. Quando também acontecia a malhação do Judas, hábito hoje pouco usado.

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JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL

Publicado em 29/03/2024 às 0:00 | Atualizado em 04/04/2024 às 14:54
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Hoje os católicos do mundo inteiro assinalam a Sexta-feira Santa. Antigamente a data transcorria de outra forma As pessoas tentavam falar o menos possível, para criar uma áurea de silêncio e pesar pela morte de Cristo. Todas as emissoras de rádio suspendiam as programações normais e passavam o dia inteiro executando apenas músicas clássicas.

Nos cinemas, eram exibidos apenas películas ligados à data. como os mais de 10 filmes clássicos sobre a morte de Jesus. No máximo filmes ligados à época, como "Sansão e Dalila" e Ben- Hur". Na televisão, a mesma coisa, praticamente eram vistos apenas filmes sacros e programas jornalísticos, que priorizavam a cobertura das cerimônias da Semana Santa.

Nas igrejas, sempre a cerimônia Paixão do Senhor, com três partes: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão Eucarística. É realizada às 15h, hora em que Jesus foi morto e é muito longa. E também a Procissão do Senhor Morto, com a imagem sendo retirada das Igrejas, para circular por ruas próximas. Uma curiosidade: a sexta-feira santa é o único dia em que os padres não podem celebrar missas.

Muitos restaurantes fechavam suas portas (o que ainda acontece com alguns) e os que abriam serviam apenas peixe ou bacalhau. Nada de carne, que não deve ser consumida neste dia, pela liturgia católica, norma que nem todos obedeciem. As lojas ficavam todas fechadas e a circulação dos ônibus muito limitada.

Sempre havia apresentações de espetáculos da Paixão de Cristo. A mais famosa delas, a de Nova Jerusalém, teve a origem nas encenações do Drama do Calvário, realizadas nas ruas da vila de Fazenda Nova, entre 1951 e 1962, por iniciativa do patriarca da família Mendonça, o comerciante e líder político local Epaminondas Mendonça. Depois de ler na revista "O Cruzeiro" como os habitantes da cidade de Oberammergau, na Baviera alemã encenavam a Paixão de Cristo, ele teve a ideia de fazer evento parecido durante a Semana Santa, para atrair turistas e movimentar o comércio do lugar. A original alemã, acontece a cada 10 anos, a pernambucana todo ano.

O genro dele, Plínio Pacheco, gaúcho que se mudou para Pernambuco, quando era militar da Força Aérea Brasileira, primeiro em Fernando de Noronha, depois no Recife, idealizou a cidade-teatro de Nova Jerusalém, com um terço do tamanho da cidade de Israel, que começou a ser construído em 1956 e foi inaugurada em 1968. Com o passar dos anos, as encenações atraiam atores e técnicos de teatro do Recife e a Paixão começou a ganhar fama e notoriedade em todo o país e atrai inclusive muitos estrangeiros.

A partir de 1995, os espetáculos passaram a ter a participação de artistas da Rede Globo, Entre que atuaram, Francisco Cuoco, Susana Vieira, Mauro Mendonça, Murilo Rosa, Thiago Lacerda, Eriberto Leão, Patrícia Pilar, Giovana Antonelli, Cristiana Oliveira, Oscar Magrini, Carol Castro, Carmo Dalle Vecchia, Herson Capri, Miguel Falabella, Fafá de Belém, Grassi Massafera e Letícia Spiller.

Duas figuras foram importantíssima para a divulgação do espetáculo. Carlos Imperial, que veio várias vezes, participar da cena do Bacanal de Herodes e destaca a beleza da encenação nos jornais e nos programas de TV que apresentava. E o figurista Denner, que participou também do bacanal e gerou uma enorme mídia nacional.

José Pimentel que fez o papel de Jesus por década, ao ser demitido, decidiu criar a Paixão de Cristo do Recife. Mesmo sem muitos recursos, fez belos espetáculos primeiro no Estádio do Arruda, depois do Marco Zero, que existiu até sua morte. Hoje, continua a ser mostrado.

Outra ação em desuso era a Malhação do Judas. Um boneco de pano, sempre lembrando alguma personagem em baixa na opinião pública, virava alvo das pessoas com pedaços de pau, até ser destruído.

Nada de grandes shows, como acontecem hoje especialmente no Recife e Gravatá. Cinemas e TVs e emissoras de rádios têm programação normal e até jogos de futebol, show e peças de teatro. Alegria antigamente ficava apenas pela Micareta, nos principals clubes do Recife. Eram festas carnavalescas para assinalar a Aleluia. E que só começavam à meia-noite da sexta-feira santa. Quando também acontecia a malhação do Judas, hábito hoje pouco usado.

Hoje é tudo diferente. Bem diferente.

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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