Qual o tamanho da (i)maturidade da educação brasileira?
Debate sobre o projeto de lei que deverá orientar a política do Novo Ensino Médio foi enormemente ampliado pelas questões políticas e corporativas, em vez de se centrar nos jovens
Sou daqueles que reconhece que o Brasil pode aprender com o Brasil. A título de exemplo, podemos citar o sistema de financiamento da educação pública, como foi o caso da construção e implementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), ou ainda o robusto sistema de avaliação da Educação Básica, aqui representado pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); ambos os casos passaram por vários governos nas três esferas administrativas e foram permeados pelo bom senso, pensando sempre no estudante e na qualidade do ensino a ofertar. Por isso, ambos se tornaram exemplos de políticas públicas no campo da educação.
Nas últimas semanas, acompanhamos a tramitação no Congresso Nacional do projeto de lei que deverá orientar a política do Novo Ensino Médio. Nesse caso, o debate foi enormemente ampliado pelas questões políticas e corporativas, em vez de se centrar nos jovens – na escola de que eles vão realmente precisar para viver no século XXI. O que se viu foi, mais uma vez, um país dividido, sem liderança para conduzir o problema, e para chegar a um acordo no Congresso Nacional foi preciso literalmente bater na mesa.
Educação não se faz assim, mas tomando decisões com base em evidências, estudos e pesquisas – ao menos deveria ser. Bastaria ver como os países que estão no topo da educação mundial tratam do seu Ensino Médio, e com certeza em nenhum deles vamos encontrar um currículo com 13 disciplinas, o que está em vias de se manter aqui no Brasil – ou seja, preservar ao máximo o formato original antes da Lei no. 13.415 de 2017. Mas, como disse em recente reportagem, o Ensino Médio que estamos aprovando é do tamanho da (i)maturidade da educação brasileira.
Precisaríamos usar de bom senso e de humildade para reconhecer que, de cada 100 jovens que concluem o Ensino Médio no Brasil, apenas 5 aprenderam o que seria esperado em matemática na rede pública de ensino; em língua portuguesa, esse número é um pouco melhor: são 31 de cada 100. Em 2022, com base no Censo Escolar, cerca de 450 mil jovens abandonaram o Ensino Médio. Considerando que o valor per capita alunoano é de R$ 6.500,00, isso significa dizer que o custo desse abandono, fazendo uma conta de padeiro, é da ordem de R$ 3 bilhões de reais.
Enquanto batemos boca, o dinheiro sai pelo ralo; na verdade, mais do que isso, perdemos os nossos jovens para o caminho das drogas, engrossando a taxa de homicídio juvenil. Mas nem tudo foi ruim. A nova proposta procura valorizar o ensino técnico profissionalizante, tão importante para o acesso ao mundo do trabalho, desde que seja de boa qualidade e alinhado com a cadeia produtiva local – afinal, estamos pensando na empregabilidade de nossos jovens.
É oportuno lembrar que, de cada 100 jovens que concluem o Ensino Médio, apenas 22 conseguem ingressar no Ensino Superior. A pergunta que resta é: o que fazer com os outros 78 – vamos deixá-los ao deus-dará O Brasil tem apenas 11% de seus jovens em cursos técnicos profissionalizantes, enquanto a média dos países da OCDE chega a 42%. Países como Áustria, Finlândia e Suíça, por exemplo, têm percentuais acima de 60% de alunos matriculados nessa modalidade de ensino.
Como disse no início, o Brasil pode aprender com o Brasil. O modelo de Ensino Médio em Tempo Integral de Pernambuco, que agora já inspira outros estados brasileiros, pode ser o caminho para uma política pública de Ensino Médio para o Brasil. Hoje a rede estadual de Pernambuco tem cerca de 66% de suas matrículas no Ensino Médio em Tempo Integral – que custa, em média, 40% mais do que o de tempo parcial, mas que, ao contrário deste, funciona.
Assim, se levarmos em conta a reprovação e o abandono escolar no Ensino Médio – e o custo, portanto, dessa ineficiência –, esse dinheiro poderia ser aplicado para alavancar o modelo de tempo integral. Mas, para que isso funcione, é preciso preparar bons professores e gestores escolares eficazes, pois esses são os dois fatores intraescolares mais importantes para melhorar a aprendizagem dos estudantes. E nessa preparação é preciso ter formação naquilo que é importante para o desenvolvimento prático desses profissionais; no Brasil, a formação é muito teórica e longe do chão da escola. Aqui, mais uma vez nos distanciamos do que fazem os países com melhor desempenho escolar.